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12 Mar 2025, Wed

Destino de férias de Anitta e na mira de Trump: Groenlândia tem hotel de vidro com diária de mais de R$ 3 mil




Laboratório vivo dos efeitos do aquecimento global, a bela e gelada Groenlândia, a maior ilha do mundo, ganha aeroportos internacionais e vira tendência de viagem Primeiro veio Tamara Klink. Em 2023, a navegadora escolheu essa fria imensidão perto do Polo Norte para começar a viver a jornada mais ousada de sua vida: isolar-se por oito meses no veleiro Sardinha 2 sobre o mar congelado do inverno. Depois chegou Anitta. A cantora brasileira mais ouvida no mundo em 2024 desembarcou em março do ano passado nas altas latitudes da Terra disposta a “conectar-se com a natureza e com ela mesma”.
Ganhou mais de 1,2 milhão de curtidas no Instagram ao clicar o raro conforto de contemplar as luzes da aurora boreal a partir de uma luxuosa cabine de vidro. Poucos meses depois, sou eu quem realiza o sonho de conhecer a Groenlândia — e em condições climáticas distintas das encaradas por minhas conterrâneas célebres. Pouso em um voo suave da Air Greenland em pleno verão do Hemisfério Norte para curtir o sol da meia-noite e entender por que tanta gente, até mesmo Donald Trump, presidente dos EUA, tem incluído essa terra remota em sua lista de desejos.
Acesso mais fácil ao fim do mundo
A primeira resposta veio rápido, apenas umas três horas depois que eu e o fotógrafo Augusto Gomes pisamos em uma cidadezinha chamada Ilulissat: a beleza! É por causa dela que 141 mil turistas viajaram à Groenlândia em 2023, um recorde. Urramos diante da chocante vista de icebergs de mais de 30 metros de altura boiando sobre águas azul-turquesa, enquanto baleias minke e jubarte se exibiam diante do barco logo no nosso primeiro passeio.
Gaivotas e andorinhas-do-mar sobrevoavam o cenário alaranjado pelo entardecer, e veleiros vermelhos contrastavam com a brancura infinita da geleira depois das 22 horas do verão. A estética imaculada e selvagem da Groenlândia, nestas fronteiras do mundo cada vez mais acessíveis, tem seduzido os turistas amantes da natureza. Não por acaso, publicações como Condé Nast Traveller e National Geographic listaram essa lonjura insólita entre os destinos quentes a visitar em 2025. E com outros bons argumentos para justificar a atração: às urgências do aquecimento global e a inauguração de três aeroportos, dois deles internacionais.
Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
O espetáculo do derretimento
Os inúmeros blocos de iceberg que avistamos boiando no Fiorde de Gelo de Ilulissat, patrimônio da humanidade declarado pela Unesco, nos lembram que a Groenlândia é um dos territórios onde se podem notar de forma mais dramática os efeitos das mudanças climáticas. Nada menos que 80% do território da maior ilha do mundo é coberto pela calota polar norte, que forma riachos e cachoeiras de derretimento a olhos vistos.
Ironicamente, viajantes como nós, que começam a descobrir a área, ficam comovidos pelo espetáculo visual e sonoro do desprendimento barulhento de grandes partes congeladas dos profundos paredões das geleiras locais.
Jakobshavn, ou “o glaciar de Ilulissat”, está localizado em frente à cidade onde vivem 5 mil dos parcos habitantes da Groenlândia (56 mil), nação com a menor densidade demográfica do mundo. Considerado um dos mais ativos do planeta, o glaciar se move 40 metros por dia, gerando icebergs assustadores para barcos como o de Tamara Klink e para os mais de setenta navios de cruzeiro que têm incrementado o turismo na região.
Fim do pinga-pinga aéreo
A crescente facilidade de acesso se destaca como motivo pelo qual nunca foi tão tranquilo ver de perto as transformações polares da Groenlândia — e, de quebra, seus outros fenômenos celestes, como a aurora boreal no inverno e o sol da meia-noite no verão. Em novembro de 2024, a capital, Nuuk, inaugurou o primeiro aeroporto internacional do pedaço.
“Outros dois estão em obras, sendo um deles o de Ilulissat e o outro em Qaqortoq, no sul, que abrirão em 2026”, conta nossa anfitriã, Tanny Por, head de relações internacionais do Visit Greenland, órgão que promove o turismo por lá.
Para vir do Brasil a Ilulissat, meu pinga-pinga aéreo incluiu escala em Madri, na Espanha, pernoite em Copenhagen, na Dinamarca, e desembarque em solo groenlandês primeiramente na pista de pouso de Kangerlussuaq, antiga base aérea norte-americana na Segunda Guerra Mundial. A partir de junho, só para citar um exemplo, haverá voo direto da United de Newark, ao lado de Nova York, para Nuuk (de onde se pode voar para Ilulissat).
Leia também
Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Um museu para o gelo
De tão imponentes, os icebergs, as geleiras e a calota polar são as atrações que enchem os olhos dos forasteiros na Groenlândia. Basta a gente começar a conversar com as pessoas para entender que existe muita vida, cultura e história para além das várias formas que a água e a neve assumem na região do Círculo Polar Ártico.
“Nós, do povo inuíte, nos sentimos mais vivos quando estamos próximo da natureza, ouvindo o barulho do mar, sentindo o cheiro das flores e ervas assim que o verde do verão cobre parte do branco da paisagem”, conta a guia Tuperna Kleist.
Foi com ela que caminhamos do centrinho da cidade até os mirantes para ver icebergs no entorno do Icefjord Centre. Funcionando desde 2021 em um edifício de linhas curvase retorcidas desenhado pela arquiteta dinamarquesa Dorte Mandrup, o belo centro cultural minimalista exibe vídeos, livros, áudios e esculturas que mostram o gelo como personagem definidor da ocupação da Groenlândia, desde tempos pré-históricos até os dias atuais.
Hotel de vidro na Groenlândia com vista para a aurora boreal
Augusto Gomes/Borealis expedições
Hotéis finos
Como se estivesse a meio caminho do passado pesqueiro e do futuro mais turístico, esperado com a chegada do aeroporto internacional, Ilulissat observa sua infraestrutura, ainda despojada, crescer rapidamente.
A cidade é o principal núcleo urbano da Costa Oeste da ilha e da Baía Disko, de onde partiram para terras ainda mais remotas ao Norte tanto exploradores nativos, como o herói local Knud Rasmussen, nos anos 1910, quanto Tamara Klink, dois anos atrás. Experimentei três dos seis melhores hotéis da cidade e notei que, neles, viajantes exigentes não passam desconfortos.
O Arctic Hotel, em cujas cabines de vidro (US$ 630 por noite) Anitta desfrutou a aurora boreal, acaba de expandir sua hospitalidade: inaugurou o restaurante Ulo com staff que inclui gente que trabalhou no prestigiado Noma, de Copenhagen. Localizado no alto de um morro, o Hotel Ilulissat (diária a US$ 215), da rede Best Western Plus, tem restaurante e terraço com a melhor vista panorâmica. E, à beira d’água, o Icefiord Hotel (US$ 345) cumpre o que promete com teto de vidro retrátil nos quartos para quem quer ver a aurora sem sair da cama.
Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Revistas Newsletter
A demanda quintuplicou em três anos
“O surgimento de novos hotéis com experiências refinadas fora da curva contribuiu para que a demanda por viagens à Groenlândia quintuplicasse nos últimos três anos”, analisa Pedro Coelho,sócio-proprietário da Borealis Expedições, a maior operadora de turismo brasileira especializada em viagens ao Ártico.
Nesse território sem estradas, onde os traslados acontecem por água e ar, um roteiro de sete dias não custa menos de US$ 7.000. O investimento pode ser otimizado em viagens combinadas com países vizinhos igualmente exuberantes, como Islândia e Ilhas Faroé. Outra das novidades da hotelaria-butique que conheci na Baía Disko foi o Ilimanaq Lodge (diária a US$ 445), na simpática vila de mesmo nome, acessível por um transfer aquático.
Além de contar com quinze bangalôs decorados com o chique design escandinavo e vista para a baía, o hotel (que só abre no verão) virou rota de hóspedes com paladar requintado. Isso porque ele abrigou, até 2024, o restaurante KOKS, que ganhou a primeira estrela Michelin da Groenlândia — recentemente rebatizado como Egede.
Não é pouca coisa em uma nação onde quase todo alimento ,com exceção dos pescados, vem do Reino da Dinamarca, país ao qual pertence o território autônomo da Groenlândia (que Donald Trump sonha conquistar).
Inuíte na Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Viver como inuíte por um dia
Enquanto a capital Nuuk, no sudoeste, e a crescente Ilulissat se modernizam com a perspectiva dos novos aeroportos, os povoados que vamos conhecendo pelas ilhas da Baía Disko preservam a alma da Groenlândia original. A bucólica Qasi-giannguit (lê-se “caci-anguit”) quase desapareceu do mapa na década de 1990, quando a produção de camarão foi encerrada. Por resiliência de alguns moradores apaixonados, porém, a vila preserva as experiências mais ricas que um estrangeiro pode ter para entender como era a cultura inuíte antes da colonização dos dinamarqueses, 300 anos atrás.
Nos domingos do verão, o museu local traz uma vivência ao ar livre em que os nativos se vestem, comem e interagem como faziam seus ancestrais. Igualmente emocionante é ter como anfitriões a guia Laila Mikaelsen e seu marido, o chef Andreas. Além de oferecer caminhadas e passeios de barco, eles abrem as portas de casa para servir, com muita conversa boa, pratos locais como peixes frescos e até carne de baleia.
Trenós de cachorros e street art
Com a mesma tradição pesqueira que sustenta a economia da Groenlândia, a localidade de Aasiaat guarda uma peculiaridade: como parte de uma rota artística a céu-aberto para ser percorrida a pé, fachadas de prédios baixos nas ruas ostentam painéis que representam o dia a dia local. As pinturas incluem cenas de atividades de inverno, como deslocamentos em trenós puxados por cachorros, e rotinas de verão, como o remo em caiaques e a caça de baleias (legalizada e controlada por cotas, conforme a quantidade de habitantes da comunidade).
Já em outro ponto da Baía Disko, a navegação ao monumental glaciar Eqi nos convida a experiências singulares. Uma é passar perto do ponto onde Tamara Klink invernou sozinha, chamado Qitermiunnguit. Além disso, ao chegar, vive-se o privilégio de dormir em frente à geleira, numa refinada cabana de glamping no Glacier Eqi Lodge. Ele também conta com bangalôs aconchegantes de onde se ouvem, à noite, as trovejadas do glaciar desmoronando e virando icebergs.
Com os pés na calota polar
Em doze dias explorando a Baía Disko, imergindo na cultura inuíte e nas múltiplas formas de gelo da natureza na Groenlândia, a experiência que mais me arrebatou foi caminhar na calota polar do Hemisfério Norte. Pisei em duas oportunidades sobre as ranhuras da neve congelada onde poucos humanos andaram: nas alturas do glaciar Eqi e nos arredores de Kangerlussuaq — a vila de 500 habitantes com pista de pouso onde se fazia escala quase obrigatória antes de os novos aeroportos chegarem. Nos confins da Groenlândia, já pertinho do Polo Norte, a única cena que se avista é a imensidão branca feita apenas de gelo. E de uma beleza infinita.


Laboratório vivo dos efeitos do aquecimento global, a bela e gelada Groenlândia, a maior ilha do mundo, ganha aeroportos internacionais e vira tendência de viagem Primeiro veio Tamara Klink. Em 2023, a navegadora escolheu essa fria imensidão perto do Polo Norte para começar a viver a jornada mais ousada de sua vida: isolar-se por oito meses no veleiro Sardinha 2 sobre o mar congelado do inverno. Depois chegou Anitta. A cantora brasileira mais ouvida no mundo em 2024 desembarcou em março do ano passado nas altas latitudes da Terra disposta a “conectar-se com a natureza e com ela mesma”.
Ganhou mais de 1,2 milhão de curtidas no Instagram ao clicar o raro conforto de contemplar as luzes da aurora boreal a partir de uma luxuosa cabine de vidro. Poucos meses depois, sou eu quem realiza o sonho de conhecer a Groenlândia — e em condições climáticas distintas das encaradas por minhas conterrâneas célebres. Pouso em um voo suave da Air Greenland em pleno verão do Hemisfério Norte para curtir o sol da meia-noite e entender por que tanta gente, até mesmo Donald Trump, presidente dos EUA, tem incluído essa terra remota em sua lista de desejos.
Acesso mais fácil ao fim do mundo
A primeira resposta veio rápido, apenas umas três horas depois que eu e o fotógrafo Augusto Gomes pisamos em uma cidadezinha chamada Ilulissat: a beleza! É por causa dela que 141 mil turistas viajaram à Groenlândia em 2023, um recorde. Urramos diante da chocante vista de icebergs de mais de 30 metros de altura boiando sobre águas azul-turquesa, enquanto baleias minke e jubarte se exibiam diante do barco logo no nosso primeiro passeio.
Gaivotas e andorinhas-do-mar sobrevoavam o cenário alaranjado pelo entardecer, e veleiros vermelhos contrastavam com a brancura infinita da geleira depois das 22 horas do verão. A estética imaculada e selvagem da Groenlândia, nestas fronteiras do mundo cada vez mais acessíveis, tem seduzido os turistas amantes da natureza. Não por acaso, publicações como Condé Nast Traveller e National Geographic listaram essa lonjura insólita entre os destinos quentes a visitar em 2025. E com outros bons argumentos para justificar a atração: às urgências do aquecimento global e a inauguração de três aeroportos, dois deles internacionais.
Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
O espetáculo do derretimento
Os inúmeros blocos de iceberg que avistamos boiando no Fiorde de Gelo de Ilulissat, patrimônio da humanidade declarado pela Unesco, nos lembram que a Groenlândia é um dos territórios onde se podem notar de forma mais dramática os efeitos das mudanças climáticas. Nada menos que 80% do território da maior ilha do mundo é coberto pela calota polar norte, que forma riachos e cachoeiras de derretimento a olhos vistos.
Ironicamente, viajantes como nós, que começam a descobrir a área, ficam comovidos pelo espetáculo visual e sonoro do desprendimento barulhento de grandes partes congeladas dos profundos paredões das geleiras locais.
Jakobshavn, ou “o glaciar de Ilulissat”, está localizado em frente à cidade onde vivem 5 mil dos parcos habitantes da Groenlândia (56 mil), nação com a menor densidade demográfica do mundo. Considerado um dos mais ativos do planeta, o glaciar se move 40 metros por dia, gerando icebergs assustadores para barcos como o de Tamara Klink e para os mais de setenta navios de cruzeiro que têm incrementado o turismo na região.
Fim do pinga-pinga aéreo
A crescente facilidade de acesso se destaca como motivo pelo qual nunca foi tão tranquilo ver de perto as transformações polares da Groenlândia — e, de quebra, seus outros fenômenos celestes, como a aurora boreal no inverno e o sol da meia-noite no verão. Em novembro de 2024, a capital, Nuuk, inaugurou o primeiro aeroporto internacional do pedaço.
“Outros dois estão em obras, sendo um deles o de Ilulissat e o outro em Qaqortoq, no sul, que abrirão em 2026”, conta nossa anfitriã, Tanny Por, head de relações internacionais do Visit Greenland, órgão que promove o turismo por lá.
Para vir do Brasil a Ilulissat, meu pinga-pinga aéreo incluiu escala em Madri, na Espanha, pernoite em Copenhagen, na Dinamarca, e desembarque em solo groenlandês primeiramente na pista de pouso de Kangerlussuaq, antiga base aérea norte-americana na Segunda Guerra Mundial. A partir de junho, só para citar um exemplo, haverá voo direto da United de Newark, ao lado de Nova York, para Nuuk (de onde se pode voar para Ilulissat).
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Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Um museu para o gelo
De tão imponentes, os icebergs, as geleiras e a calota polar são as atrações que enchem os olhos dos forasteiros na Groenlândia. Basta a gente começar a conversar com as pessoas para entender que existe muita vida, cultura e história para além das várias formas que a água e a neve assumem na região do Círculo Polar Ártico.
“Nós, do povo inuíte, nos sentimos mais vivos quando estamos próximo da natureza, ouvindo o barulho do mar, sentindo o cheiro das flores e ervas assim que o verde do verão cobre parte do branco da paisagem”, conta a guia Tuperna Kleist.
Foi com ela que caminhamos do centrinho da cidade até os mirantes para ver icebergs no entorno do Icefjord Centre. Funcionando desde 2021 em um edifício de linhas curvase retorcidas desenhado pela arquiteta dinamarquesa Dorte Mandrup, o belo centro cultural minimalista exibe vídeos, livros, áudios e esculturas que mostram o gelo como personagem definidor da ocupação da Groenlândia, desde tempos pré-históricos até os dias atuais.
Hotel de vidro na Groenlândia com vista para a aurora boreal
Augusto Gomes/Borealis expedições
Hotéis finos
Como se estivesse a meio caminho do passado pesqueiro e do futuro mais turístico, esperado com a chegada do aeroporto internacional, Ilulissat observa sua infraestrutura, ainda despojada, crescer rapidamente.
A cidade é o principal núcleo urbano da Costa Oeste da ilha e da Baía Disko, de onde partiram para terras ainda mais remotas ao Norte tanto exploradores nativos, como o herói local Knud Rasmussen, nos anos 1910, quanto Tamara Klink, dois anos atrás. Experimentei três dos seis melhores hotéis da cidade e notei que, neles, viajantes exigentes não passam desconfortos.
O Arctic Hotel, em cujas cabines de vidro (US$ 630 por noite) Anitta desfrutou a aurora boreal, acaba de expandir sua hospitalidade: inaugurou o restaurante Ulo com staff que inclui gente que trabalhou no prestigiado Noma, de Copenhagen. Localizado no alto de um morro, o Hotel Ilulissat (diária a US$ 215), da rede Best Western Plus, tem restaurante e terraço com a melhor vista panorâmica. E, à beira d’água, o Icefiord Hotel (US$ 345) cumpre o que promete com teto de vidro retrátil nos quartos para quem quer ver a aurora sem sair da cama.
Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Revistas Newsletter
A demanda quintuplicou em três anos
“O surgimento de novos hotéis com experiências refinadas fora da curva contribuiu para que a demanda por viagens à Groenlândia quintuplicasse nos últimos três anos”, analisa Pedro Coelho,sócio-proprietário da Borealis Expedições, a maior operadora de turismo brasileira especializada em viagens ao Ártico.
Nesse território sem estradas, onde os traslados acontecem por água e ar, um roteiro de sete dias não custa menos de US$ 7.000. O investimento pode ser otimizado em viagens combinadas com países vizinhos igualmente exuberantes, como Islândia e Ilhas Faroé. Outra das novidades da hotelaria-butique que conheci na Baía Disko foi o Ilimanaq Lodge (diária a US$ 445), na simpática vila de mesmo nome, acessível por um transfer aquático.
Além de contar com quinze bangalôs decorados com o chique design escandinavo e vista para a baía, o hotel (que só abre no verão) virou rota de hóspedes com paladar requintado. Isso porque ele abrigou, até 2024, o restaurante KOKS, que ganhou a primeira estrela Michelin da Groenlândia — recentemente rebatizado como Egede.
Não é pouca coisa em uma nação onde quase todo alimento ,com exceção dos pescados, vem do Reino da Dinamarca, país ao qual pertence o território autônomo da Groenlândia (que Donald Trump sonha conquistar).
Inuíte na Groenlândia
Augusto Gomes/Borealis expedições
Viver como inuíte por um dia
Enquanto a capital Nuuk, no sudoeste, e a crescente Ilulissat se modernizam com a perspectiva dos novos aeroportos, os povoados que vamos conhecendo pelas ilhas da Baía Disko preservam a alma da Groenlândia original. A bucólica Qasi-giannguit (lê-se “caci-anguit”) quase desapareceu do mapa na década de 1990, quando a produção de camarão foi encerrada. Por resiliência de alguns moradores apaixonados, porém, a vila preserva as experiências mais ricas que um estrangeiro pode ter para entender como era a cultura inuíte antes da colonização dos dinamarqueses, 300 anos atrás.
Nos domingos do verão, o museu local traz uma vivência ao ar livre em que os nativos se vestem, comem e interagem como faziam seus ancestrais. Igualmente emocionante é ter como anfitriões a guia Laila Mikaelsen e seu marido, o chef Andreas. Além de oferecer caminhadas e passeios de barco, eles abrem as portas de casa para servir, com muita conversa boa, pratos locais como peixes frescos e até carne de baleia.
Trenós de cachorros e street art
Com a mesma tradição pesqueira que sustenta a economia da Groenlândia, a localidade de Aasiaat guarda uma peculiaridade: como parte de uma rota artística a céu-aberto para ser percorrida a pé, fachadas de prédios baixos nas ruas ostentam painéis que representam o dia a dia local. As pinturas incluem cenas de atividades de inverno, como deslocamentos em trenós puxados por cachorros, e rotinas de verão, como o remo em caiaques e a caça de baleias (legalizada e controlada por cotas, conforme a quantidade de habitantes da comunidade).
Já em outro ponto da Baía Disko, a navegação ao monumental glaciar Eqi nos convida a experiências singulares. Uma é passar perto do ponto onde Tamara Klink invernou sozinha, chamado Qitermiunnguit. Além disso, ao chegar, vive-se o privilégio de dormir em frente à geleira, numa refinada cabana de glamping no Glacier Eqi Lodge. Ele também conta com bangalôs aconchegantes de onde se ouvem, à noite, as trovejadas do glaciar desmoronando e virando icebergs.
Com os pés na calota polar
Em doze dias explorando a Baía Disko, imergindo na cultura inuíte e nas múltiplas formas de gelo da natureza na Groenlândia, a experiência que mais me arrebatou foi caminhar na calota polar do Hemisfério Norte. Pisei em duas oportunidades sobre as ranhuras da neve congelada onde poucos humanos andaram: nas alturas do glaciar Eqi e nos arredores de Kangerlussuaq — a vila de 500 habitantes com pista de pouso onde se fazia escala quase obrigatória antes de os novos aeroportos chegarem. Nos confins da Groenlândia, já pertinho do Polo Norte, a única cena que se avista é a imensidão branca feita apenas de gelo. E de uma beleza infinita.



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