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12 Mar 2025, Wed

Com tributo a Brian James, The Damned faz show soturno no Cine Joia

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Ao subir no palco do Cine Joia, em São Paulo, na noite da última sexta-feira (7), o vocalista David Vanian comunicou que o show prestes a começar seria dedicado ao ex-guitarrista Brian James. O cofundador de The Damned faleceu na véspera da apresentação paulistana, aos 70 anos.

Meia hora mais tarde, Captain Sensible (nascido quase setenta e dois anos atrás como Raymond Burns, mas quem se importa?), baixista da formação original que assumiu as guitarras quando James saiu, anunciou uma mudança no repertório. A ideia era incluir mais canções escritas pelo antigo companheiro — quase todas dos dois primeiros trabalhos.

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Ao longo de uma hora e meia, porém, The Damned privilegiou o material lançado na guinada da década de 1970 para 1980. Com teclados ganhando proeminência em composições mais melódicas e menos agressivas, a banda expandiu sua sonoridade além dos três acordes típicos do punk, abraçando vertentes góticas e psicodélicas. 

No total, em relação ao setlist dos shows no ano passado, foram adicionadas apenas duas faixas do álbum de estreia “Damned Damned Damned”, o primeiro lançado por um grupo punk inglês no longínquo ano de 1977. Uma pena, pois ficou evidente como as músicas mais rápidas eram preferidas pelo público que os viu no Cine Joia antes das apresentações abrindo para o Offspring no Allianz Parque (08/03) e na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba (09/03). Não que as demais tenham sido ignoradas, longe disso.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Quase a formação original, mas clássica mesmo assim

Desde 1996, os membros originais Vanian — 68 anos de idade e única presença constante nas variadas formações de The Damned — e Sensible — de breve ausência durante poucos anos nas décadas de 80 e 90 — lideram o grupo por vários discos ignorados no repertório desta sexta à noite de casa cheia no fim do verão na capital paulista.

Se com a morte de James ficou impossível ver o quarteto original junto, The Damned ofereceu nesta vinda ao Brasil o mais próximo disso. Além da dupla citada, também presente em sua primeira e única apresentação anterior no país em 2012, Rat Scabies, icônico baterista que ficou desde a primeira formação até 1996, estava de volta ao grupo depois de se reunir para alguns shows com o quarteto original em 2022. Com quase 70 anos, o músico mostrou vitalidade em seu kit envelopado atrás de uma proteção de acrílico no fundo do palco.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A trinca clássica esteve acompanhada do baixista Paul Grey, presente no grupo em boa parte da década oitentista. Estiloso, o músico de 66 anos percorria todo o palco, enquanto o tecladista Laurence Burrow, conhecido pela alcunha de Monty Oxymoron, ficava preso no cantinho. Desgrenhado, o caçula da banda, com meros 63 anos, tinha participação decisiva no material executado, também sendo importante nos vocais de apoio e, ao seu modo, agitando o público.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Show soturno e enérgico

Apesar da dedicatória ao guitarrista falecido na véspera feita antes de qualquer nota ser tocada e das flores majoritariamente brancas enfeitando o palco, o show em nenhum momento teve um tom emotivo. O clima soturno prevaleceu, com iluminação escura dominando a maior parte da apresentação.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A colorida bandeira brasileira sobre um dos amplificadores atrás de Sensible destoou tanto quanto a boina e camiseta de listras vermelhas e brancas do guitarrista, mas se encaixava perfeitamente ao traje totalmente preto de Vanian. Mesmo com essa atmosfera trevosa, ambos, assim como Paul Grey, não largaram seus óculos escuros a noite toda.

Assim, não surpreendeu que logo de cara duas músicas das sete tocadas de “Machine Gun Etiquette” (1979), “Love Song” e a faixa-título, iniciaram o repertório e colocaram o público para cantar e pular junto. Praticamente emendadas, “Wait for the Blackout” e “Lively Arts”, ambas extraídas de “The Black Album” (1980), viram a animação diminuir um pouco, mesmo com Scabies ditando sua batida energética.

Monty Oxymoron foi introduzido por Vanian após o cantor e o guitarrista arriscarem algumas frases sem sentido em português. “The History of the World”, outra de “The Black Album” — que teve cinco faixas reproduzidas na noite —, teve seu início dominado por teclados beirando o AOR. Apesar do som um pouco abafado na equalização da casa, o instrumento seguiu em destaque em “Plan 9 Channel 7” e reproduzindo as partes de sax de “Stranger on the Town”, primeira das quatro extraídas do disco “Strawberry” (1982).

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O set, que ficava mais soturno conforme Vanian emulava cada vez mais seu Ian Curtis interior, só mudou de cara quando Sensible anunciou a alteração do repertório padrão para incluir faixas do falecido James. A primeira, “Fan Club”, do clássico álbum de estreia, tirou o público de uma aura mais contemplativa para os saltos e gritos efusivos.

“Eloise”, maior sucesso do grupo nas paradas britânicas, manteve a animação do público. O cover de Barry Ryan foi lançado como single em 1986 e também foi a única música executada da noite cuja versão original não foi gravada com Captain Sensible. Talvez por isso, na sequência, a banda tenha tocado “Life Goes On”, outra de “Strawberry”, em que o guitarrista assumiu o vocal principal.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Reta final com energia punk

Eram músicas mais animadas, porém, que despertavam o público, e assim The Damned fechou a parte principal da apresentação. A quadra final incluiu “Born to Kill”, outra do icônico disco de estreia incluída especialmente nesta noite, e “Noise Noise Noise”, antes de a banda estender “Ignite” para manter o pessoal cantando seu coro fácil. Antes de deixar o palco, a clássica “Neat Neat Neat”, do primeiro álbum, transformou a pista num pandemônio com sua pegada frenética.

No bis, sem muita espera, mais uma vez Oxymoron foi chamado para “Curtain Call”, faixa de 17 minutos de “The Black Album”, mas nesta noite encerrada após seus cinco minutos iniciais, dando um breve respiro introspectivo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Sua viagem psicodélica intermediária foi interrompida por um curto solo de bateria de Scabies, logo emendando a batida inicial de “New Rose”. O icônico primeiro single da história do punk britânico, também incluído no disco de estreia, era tudo o que o público queria nesta noite.

Faltava “Smash it Up” e a banda até ameaçou deixar o palco, mas não o fez e logo a música de “Machine Gun Etiquette” veio com sua melódica primeira parte instrumental servindo apenas para aumentar a tensão.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Assim que guitarra e bateria entraram num crescendo, o público já saiu pulando antes de seu clássico riff tipicamente punk rock dar início à sua levada ramoníaca. Sua letra foi acompanhada quase em uníssono e a noite se encerrou com seu refrão irresistível berrado por todo mundo no Cine Joia.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Quando “Smash it Up” terminou, a banda se despediu jogando ao público as flores que enfeitavam o palco. Eram muitas e por isso demorou uns dois minutos até acabarem. Tempo suficiente para ter encaixado mais uma música do primeiro disco e talvez as pessoas na estação do metrô nas proximidades do Cine Joia, em vez de carregar uma recordação do show, estivessem mais exaustas.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Não que alguém tenha saído insatisfeito de um show com toda a cara de que, pela coincidência da triste circunstância, ficará marcado na história da banda e da cidade. A idade dos músicos de The Damned talvez indique a primeira de uma série de despedidas em grande nível do público brasileiro, numa turnê com mais duas datas abrindo para o Offspring. Nenhum dos velhinhos no palco, porém, pareceu prestes a se aposentar. Muito pelo contrário.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

The Damned — ao vivo em São Paulo

  • Local: Cine Joia
  • Data: 7 de março de 2025
  • Turnê: North and South America 2025
  • Produção: 30e

Repertório:

  1. Love Song
  2. Machine Gun Etiquette
  3. Wait for the Blackout
  4. Lively Arts
  5. The History of the World (Part 1)
  6. Plan 9 Channel 7
  7. Stranger on the Town
  8. Gun Fury (of Riot Forces)
  9. I Just Can’t Be Happy Today
  10. Dr. Jekyll and Mr. Hyde
  11. Fan Club
  12. Eloise (cover de Barry Ryan)
  13. Life Goes On
  14. Born to Kill
  15. Noise Noise Noise
  16. Ignite
  17. Neat Neat Neat

Primeiro bis:

  1. Curtain Call (cinco primeiros minutos)
  2. Solo de bateria de Rat Scabies
  3. New Rose

Segundo bis:

  1. Smash It Up (Part 1)
  2. Smash It Up (Part 2)
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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Ao subir no palco do Cine Joia, em São Paulo, na noite da última sexta-feira (7), o vocalista David Vanian comunicou que o show prestes a começar seria dedicado ao ex-guitarrista Brian James. O cofundador de The Damned faleceu na véspera da apresentação paulistana, aos 70 anos.

Meia hora mais tarde, Captain Sensible (nascido quase setenta e dois anos atrás como Raymond Burns, mas quem se importa?), baixista da formação original que assumiu as guitarras quando James saiu, anunciou uma mudança no repertório. A ideia era incluir mais canções escritas pelo antigo companheiro — quase todas dos dois primeiros trabalhos.

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Ao longo de uma hora e meia, porém, The Damned privilegiou o material lançado na guinada da década de 1970 para 1980. Com teclados ganhando proeminência em composições mais melódicas e menos agressivas, a banda expandiu sua sonoridade além dos três acordes típicos do punk, abraçando vertentes góticas e psicodélicas. 

No total, em relação ao setlist dos shows no ano passado, foram adicionadas apenas duas faixas do álbum de estreia “Damned Damned Damned”, o primeiro lançado por um grupo punk inglês no longínquo ano de 1977. Uma pena, pois ficou evidente como as músicas mais rápidas eram preferidas pelo público que os viu no Cine Joia antes das apresentações abrindo para o Offspring no Allianz Parque (08/03) e na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba (09/03). Não que as demais tenham sido ignoradas, longe disso.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Quase a formação original, mas clássica mesmo assim

Desde 1996, os membros originais Vanian — 68 anos de idade e única presença constante nas variadas formações de The Damned — e Sensible — de breve ausência durante poucos anos nas décadas de 80 e 90 — lideram o grupo por vários discos ignorados no repertório desta sexta à noite de casa cheia no fim do verão na capital paulista.

Se com a morte de James ficou impossível ver o quarteto original junto, The Damned ofereceu nesta vinda ao Brasil o mais próximo disso. Além da dupla citada, também presente em sua primeira e única apresentação anterior no país em 2012, Rat Scabies, icônico baterista que ficou desde a primeira formação até 1996, estava de volta ao grupo depois de se reunir para alguns shows com o quarteto original em 2022. Com quase 70 anos, o músico mostrou vitalidade em seu kit envelopado atrás de uma proteção de acrílico no fundo do palco.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A trinca clássica esteve acompanhada do baixista Paul Grey, presente no grupo em boa parte da década oitentista. Estiloso, o músico de 66 anos percorria todo o palco, enquanto o tecladista Laurence Burrow, conhecido pela alcunha de Monty Oxymoron, ficava preso no cantinho. Desgrenhado, o caçula da banda, com meros 63 anos, tinha participação decisiva no material executado, também sendo importante nos vocais de apoio e, ao seu modo, agitando o público.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Show soturno e enérgico

Apesar da dedicatória ao guitarrista falecido na véspera feita antes de qualquer nota ser tocada e das flores majoritariamente brancas enfeitando o palco, o show em nenhum momento teve um tom emotivo. O clima soturno prevaleceu, com iluminação escura dominando a maior parte da apresentação.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A colorida bandeira brasileira sobre um dos amplificadores atrás de Sensible destoou tanto quanto a boina e camiseta de listras vermelhas e brancas do guitarrista, mas se encaixava perfeitamente ao traje totalmente preto de Vanian. Mesmo com essa atmosfera trevosa, ambos, assim como Paul Grey, não largaram seus óculos escuros a noite toda.

Assim, não surpreendeu que logo de cara duas músicas das sete tocadas de “Machine Gun Etiquette” (1979), “Love Song” e a faixa-título, iniciaram o repertório e colocaram o público para cantar e pular junto. Praticamente emendadas, “Wait for the Blackout” e “Lively Arts”, ambas extraídas de “The Black Album” (1980), viram a animação diminuir um pouco, mesmo com Scabies ditando sua batida energética.

Monty Oxymoron foi introduzido por Vanian após o cantor e o guitarrista arriscarem algumas frases sem sentido em português. “The History of the World”, outra de “The Black Album” — que teve cinco faixas reproduzidas na noite —, teve seu início dominado por teclados beirando o AOR. Apesar do som um pouco abafado na equalização da casa, o instrumento seguiu em destaque em “Plan 9 Channel 7” e reproduzindo as partes de sax de “Stranger on the Town”, primeira das quatro extraídas do disco “Strawberry” (1982).

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O set, que ficava mais soturno conforme Vanian emulava cada vez mais seu Ian Curtis interior, só mudou de cara quando Sensible anunciou a alteração do repertório padrão para incluir faixas do falecido James. A primeira, “Fan Club”, do clássico álbum de estreia, tirou o público de uma aura mais contemplativa para os saltos e gritos efusivos.

“Eloise”, maior sucesso do grupo nas paradas britânicas, manteve a animação do público. O cover de Barry Ryan foi lançado como single em 1986 e também foi a única música executada da noite cuja versão original não foi gravada com Captain Sensible. Talvez por isso, na sequência, a banda tenha tocado “Life Goes On”, outra de “Strawberry”, em que o guitarrista assumiu o vocal principal.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Reta final com energia punk

Eram músicas mais animadas, porém, que despertavam o público, e assim The Damned fechou a parte principal da apresentação. A quadra final incluiu “Born to Kill”, outra do icônico disco de estreia incluída especialmente nesta noite, e “Noise Noise Noise”, antes de a banda estender “Ignite” para manter o pessoal cantando seu coro fácil. Antes de deixar o palco, a clássica “Neat Neat Neat”, do primeiro álbum, transformou a pista num pandemônio com sua pegada frenética.

No bis, sem muita espera, mais uma vez Oxymoron foi chamado para “Curtain Call”, faixa de 17 minutos de “The Black Album”, mas nesta noite encerrada após seus cinco minutos iniciais, dando um breve respiro introspectivo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Sua viagem psicodélica intermediária foi interrompida por um curto solo de bateria de Scabies, logo emendando a batida inicial de “New Rose”. O icônico primeiro single da história do punk britânico, também incluído no disco de estreia, era tudo o que o público queria nesta noite.

Faltava “Smash it Up” e a banda até ameaçou deixar o palco, mas não o fez e logo a música de “Machine Gun Etiquette” veio com sua melódica primeira parte instrumental servindo apenas para aumentar a tensão.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Assim que guitarra e bateria entraram num crescendo, o público já saiu pulando antes de seu clássico riff tipicamente punk rock dar início à sua levada ramoníaca. Sua letra foi acompanhada quase em uníssono e a noite se encerrou com seu refrão irresistível berrado por todo mundo no Cine Joia.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Quando “Smash it Up” terminou, a banda se despediu jogando ao público as flores que enfeitavam o palco. Eram muitas e por isso demorou uns dois minutos até acabarem. Tempo suficiente para ter encaixado mais uma música do primeiro disco e talvez as pessoas na estação do metrô nas proximidades do Cine Joia, em vez de carregar uma recordação do show, estivessem mais exaustas.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Não que alguém tenha saído insatisfeito de um show com toda a cara de que, pela coincidência da triste circunstância, ficará marcado na história da banda e da cidade. A idade dos músicos de The Damned talvez indique a primeira de uma série de despedidas em grande nível do público brasileiro, numa turnê com mais duas datas abrindo para o Offspring. Nenhum dos velhinhos no palco, porém, pareceu prestes a se aposentar. Muito pelo contrário.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

The Damned — ao vivo em São Paulo

  • Local: Cine Joia
  • Data: 7 de março de 2025
  • Turnê: North and South America 2025
  • Produção: 30e

Repertório:

  1. Love Song
  2. Machine Gun Etiquette
  3. Wait for the Blackout
  4. Lively Arts
  5. The History of the World (Part 1)
  6. Plan 9 Channel 7
  7. Stranger on the Town
  8. Gun Fury (of Riot Forces)
  9. I Just Can’t Be Happy Today
  10. Dr. Jekyll and Mr. Hyde
  11. Fan Club
  12. Eloise (cover de Barry Ryan)
  13. Life Goes On
  14. Born to Kill
  15. Noise Noise Noise
  16. Ignite
  17. Neat Neat Neat

Primeiro bis:

  1. Curtain Call (cinco primeiros minutos)
  2. Solo de bateria de Rat Scabies
  3. New Rose

Segundo bis:

  1. Smash It Up (Part 1)
  2. Smash It Up (Part 2)
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
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