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11 Mar 2025, Tue


Texto por Luís S. Bocatios | No último domingo (9), a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, foi palco de seis shows com domínio, mas não exclusividade, do punk rock: Offspring, Sublime, Rise Against, The Damned, The Warning e Amyl & the Sniffers repetiram o lineup do dia anterior, em São Paulo, e ofereceram um dia agradável de shows mesmo com perrengues causados pela chuva e, ao mesmo tempo, um calor infernal.

Por se encontrar em um bairro residencial de Curitiba, a Pedreira Paulo Leminski enfrentou diversas batalhas judiciais ao longo das últimas décadas que envolviam a proibição de shows no local, para não incomodar a população nos arredores. A regra atual diz que os eventos de domingo não podem ultrapassar às 20h. Portanto, era fundamental que as apresentações começassem cedo e não atrasassem.

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Com exceção do The Offspring, que subiu ao palco cerca de quinze minutos após o horário marcado, todos os outros shows começaram pontualmente. Mesmo com intervalos curtos entre uma banda e outra, todas as equipes foram muito hábeis e conseguiram cumprir o planejamento do evento.

Amyl & the Sniffers

Pontualmente às 11h, os australianos da Amyl & the Sniffers subiram ao palco da Pedreira Paulo Leminski, que ainda se encontrava praticamente vazia. Enquanto a vocalista Amy Taylor corria pelo palco saudando o público e o baterista Bryce Wilson se aprontava atrás de seu kit, o baixista Gus Romer e o guitarrista Declan Mehrtens deram um selinho e olharam para o público rindo.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Quando soaram os primeiros acordes de “Security”, que abriu o set, mesmo quem não era familiar com a banda conseguiu perceber do que o show se trataria: um punk rock clássico, da escola setentista, com influência de nomes como Sex Pistols e The Stooges, muito bem feito e executado com enorme energia.

O quarteto rapidamente conquistou o público e apresentou um repertório redondinho composto por doze ótimas músicas que passam por seus três álbuns de estúdio. Agradaram tanto os fãs, que foram à loucura, quanto o público que não conhecia o trabalho do grupo. Com uma presença de palco excelente, sem parar de correr pra lá e pra cá, Amy Taylor fez questão de agradecer repetidamente o público por chegar tão cedo à Pedreira.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A vocalista tem um carisma enorme e passa o show inteiro interagindo com a plateia, sempre encontrando alguém para agitar. Em “Got You”, perto do final do show, ela notou um cartaz que fazia referência à música e não hesitou em correr para a extremidade do palco para apontar para o cartaz e agradecer às fãs que o haviam desenhado.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Além de Taylor, Romer também interage bastante com o público. Em dado momento, ele chega a comandar um coro da plateia com os clássicos gritos de “oi, oi”. Mehrtens, que entrega excelentes riffs e bons solos durante o show inteiro, tem seus momentos de destaque, como na última música, “Hertz”, durante a qual vai ao meio do palco e sola por um pouco mais de tempo, chegando a brincar que vai tocar a guitarra com a língua.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Como bom punk rock clássico, é claro que a banda achou espaço para mandar sua mensagem política: Amy Taylor mandou o bom e velho “f#ck” para o presidente americano Donald Trump e para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Ela perguntou para o público como se diz “f#ck” e “c#nt” em português, e é claro que não houve nenhuma hesitação por parte do público para respondê-la em alto e bom som.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O show da Amyl & the Sniffers foi perfeito: com excelentes músicas, energia contagiante e performances certeiras, a banda fez a alegria dos fãs que estavam lá para vê-las e deixou uma excelente impressão naqueles que ainda não os conhecia. Que tenha sido a primeira de muitas passagens pelo Brasil.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Repertório — Amyl & the Sniffers

1. Security
2. Doing in me Head
3. Chewing Gum
4. It’s Mine
5. Guided by Angels
6. Some Mutts (Can’t be Muzzled)
7. Jerks
8. Tiny Bikini
9. Got You
10. GFY
11. U Should Not Be Doing That
12. Hertz

The Warning

Às 12h10, chegou a vez do trio mexicano The Warning subir ao palco. Composta pelas irmãs Daniela Villarreal (guitarra e vocais), Paulina Villarreal (bateria e vocais) e Alejandra Villarreal (baixo e vocais), a banda foge da estética punk que dominou o dia e apresenta uma sonoridade com certa influência de Queens of the Stone Age e Royal Blood.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Já na primeira música, “S!ck”, ficou notório o poder da cozinha formada por Paulina e Alejandra: o som do bumbo era arrebatador e o baixo soava de forma a fazer a Pedreira pulsar, tornando difícil a tarefa de ficar parado. A guitarra de Daniela também não fica atrás, oferecendo riffs pesados e solos tecnicamente complicados, brincando bastante com diversos pedais diferentes.

Mesmo que todas as integrantes sejam ótimas instrumentistas, o destaque técnico ficou por conta de Paulina, que desce a mão na bateria e eleva o poder da performance ao vivo a outro nível, além de oferecer viradas excelentes, especialmente na penúltima música, “Automatic Sun”. Vale dizer que os timbres mais crus utilizados pelo The Warning ao vivo funcionam muito melhor do que aqueles que estão nos discos, prejudicados por uma produção grandiloquente que deixa a sonoridade um tanto quanto genérica.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Com um repertório focado em seu último álbum de estúdio, “Keep Me Fed” (2024), o trio também conquistou o público logo de cara e, com uma Pedreira já bem mais povoada, contava com bastante fãs na plateia. O set teve apenas 11 músicas, que percorreram cerca de quarenta minutos e deixaram um gosto de “quero mais”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Daniela agradeceu aos fãs e ao Offspring e ressaltou a beleza da Pedreira Paulo Leminski — que, bairrismo à parte, de fato é um dos lugares mais bonitos que recebem shows no Brasil. Ao final do show, a vocalista ainda garantiu aos fãs que logo o trio estaria de volta ao país.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Um fato curioso é que, durante pelo menos 95% da apresentação, apenas a guitarrista era mostrada nos telões. Logo na segunda música, “Z”, que tem uma parte cantada por Paulina, algumas pessoas viram que Daniela estava longe do microfone e começaram a suspeitar de que a banda estava usando playback. O único momento em que a baterista e a baixista apareceram no telão foi durante “Sharks”, na qual Paulina canta os versos.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Mesmo quando Daniela apresentava suas irmãs para o público, a câmera permanecia focada nela, o que gerou certo constrangimento no público, que eventualmente passou a achar a situação divertida. Ouviam-se comentários como “namore alguém que gosta de você tanto quanto o câmera gosta da vocalista”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A esquisitice que se viu nos telões, é claro, não prejudicou a performance do grupo, que deixou uma excelente impressão no público. Levando em conta o número de fãs que se via na plateia, o trio já parece pronto para voltar ao Brasil em uma apresentação solo nos próximos anos.

Repertório — The Warning:

1. S!CK
2. Z
3. Que Más Quieres
4. Satisfied
5. Apologize
6. More
7. Sharks
8. Disciple
9. Hell You Call a Dream
10. Automatic Sun
11. Evolve

The Damned

Se relevância histórica fosse o único critério para definir a ordem na qual as bandas se apresentariam, não há dúvidas de que a lendária The Damned seria a escolhida para fechar a noite. Para entender a importância do grupo, basta saber que pertence a eles o primeiro compacto da história do punk inglês, “New Rose”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Junto ao Buzzcocks (que visita Curitiba no próximo dia 25 de maio), a banda também está entre as precursoras de uma série de ramificações do punk, com uma discografia que passeia por momentos mais comerciais que tocam em estilos como o rock gótico e o pós-punk, se tornando uma referência enorme para grupos como Green Day e o próprio Offspring. Mesmo sem a energia de outrora (afinal de contas, o membro mais novo tem 63 anos), The Damned entrega um show conciso que passa por todas as vertentes de seu som.

A essa hora, 13h20, o calor já começava a se tornar difícil de suportar. Mesmo assim, o vocalista Dave Vanian não abriu mão de seu figurino estiloso, formado por uma jaqueta e um lenço amarrado ao pescoço. Se existe algo mais punk do que usar uma jaqueta preta em um calor de trinta graus, eu não sei. Antes da quinta música, “Stranger on the Town”, o calor falou mais alto e Vanian abriu mão do casaco.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Com seus óculos escuros que o dão um ar de Keith Richards, o guitarrista e originalmente baixista Captain Sensible assume um papel quase de co-frontman, se comunicando com o público ainda mais do que o vocalista. O baixista Paul Gray e o tecladista Monty Oxymoron ficam mais na deles, enquanto o lendário baterista Rat Scabies, um dos grandes do punk, tem uma ótima performance para seus 69 anos.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O quinteto ainda lembrou da morte do membro-fundador Brian James, ocorrida na última quinta-feira (6), um dia antes do primeiro show nesta turnê nacional. O guitarrista, que deixou a banda em 1978 e retornou para algumas turnês especiais ao longo dos anos, foi lembrado em dois momentos: o primeiro, quando a música “Fan Club” foi dedicada a ele; o segundo, quando, em “New Rose”, a penúltima do show, sua imagem foi projetada no telão.

Antes da última música, Captain Sensible agradeceu ao público e ao Offspring, mesmo que, segundo ele, “eles tenham roubado uma de nossas músicas”, dedicando à banda californiana a última canção do show, “Smash it Up”. Após o grupo se despedir, Dave Vanian proferiu as últimas palavras do The Damned nessa passagem pelo Brasil: “muito calor”; em português, mas com o sotaque britânico mais carregado possível.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Mesmo que o público em geral parecesse pouco familiarizado com o repertório, era possível observar vários fãs mais velhos emocionados e cantando todas as músicas. Ao final do show, os aplausos fervorosos mostraram que a plateia reconheceu a importância do The Damned e a oportunidade rara de testemunhar a apresentação de um dos grupos seminais da história do punk.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Repertório — The Damned

1. Love Song
2. Machine Gun Etiquette
3. Wait for the Blackout
4. Lively Arts
5. The History of the World (Part 1)
6. Stranger on the Town
7. Fan Club
8. Eloise
9. Born to Kill
10. Noise Noise Noise
11. Ignite
12. Neat Neat Neat
13. New Rose
14. Smash it Up (Part 1)
15. Smash it Up (Part 2)

Rise Against

Às 14h40, quando o Rise Against subiu ao palco, o calor que fazia na Pedreira Paulo Leminski já beirava o insuportável. O termômetro marcava 31 graus e o sol estava mais forte do que nunca. A essa altura, no entanto, o local já estava praticamente lotado.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Ao medir pelo número de camisetas na plateia e pelas conversas que se ouvia pela Pedreira, o Rise Against só não era mais esperado do que o Offspring; ou seja, mesmo com o calor tunisiano que fazia, a banda teve em suas mãos um público altamente engajado. O quarteto formado por Tim McIlrath (guitarra e vocais), Zach Blair (guitarra), Joe Principe (baixo) e Brandon Barnes (bateria) apresentou um repertório de doze músicas e foi consagrado pelo público curitibano.

Já nas duas primeiras canções, era nítida a empolgação da plateia, mas, a partir do hit “Give it All”, mesmo os fãs que buscavam alguma sombra para se esconder do sol abriram mão de seu próprio bem-estar e correram para o meio do público. Na primeira interação com o público, McIlrath exaltou as bandas que tocaram anteriormente, pedindo aplausos para Amyl & the Sniffers, The Warning e, principalmente, The Damned, ressaltando que o grupo britânico pavimentou a estrada para que artistas mais novos pudessem andar.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Outra comunicação com a plateia se deu antes de “Prayer of the Refugee”. Aqui, o vocalista ressaltou que a música e a banda eram contra autoritarismo, fascismo, racismo, sexismo e homofobia. Diferente de outros shows na capital paranaense (mais notadamente o de Roger Waters, na véspera das eleições presidenciais de 2018), o público não reclamou; pelo contrário, os aplausos para a fala foram sonoros.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Após um declínio na energia do show com a balada “Swing Life Away” — durante a qual Tim McIlrath fica sozinho no palco com seu violão —, a apresentação é encerrada lá no alto com “Make it Stop (September’s Children)” e “Savior”. O quarteto saiu do palco sob aplausos entusiasmados do público que resistiu ao calor intenso para curtir o show de uma das bandas mais celebradas do punk rock dos anos 2000.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Repertório — Rise Against

1. Re-Education (Through Labor)
2. The Violence
3. Give It All
4. Help is on the Way
5. The Good Left Undone
6. Satellite
7. Nod
8. Ready to Fall
9. Prayer of the Refugee
10. Swing Life Away
11. Make it Stop (September’s Children)
12. Savior

Sublime

No momento em que soou o primeiro acorde de “Date Rape”, que abriu o show do Sublime, um cheiro bastante curioso passou a pairar sobre a Pedreira Paulo Leminski. Digamos que as árvores que contornam a Pedreira não eram o único verde do local.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O público curtia, dançava e cantava junto, até que, na terceira música, caiu uma forte chuva responsável por diminuir consideravelmente o abafamento que tomava conta do local e tornar a temperatura muito mais agradável. O aguaceiro se dissipou — e para o clima ficar mais perfeito em meio à apresentação, só se uma cratera em formato de pista de skate se abrisse no chão da Pedreira.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O trio californiano de ska-punk, reunido em 2023, California, atualmente conta com dois membros da formação original, o baixista Eric Wilson e o baterista Bud Gaugh. Eles se juntaram ao vocalista e guitarrista Jakob Nowell, filho do membro fundador Bradley Nowell, falecido em 1996. A banda ainda conta com o guitarrista de apoio Trey Pangborn e o DJ Product.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O repertório se mostrou um deleite para os fãs do Sublime que queriam relembrar sua adolescência — ainda que soasse repetitivo para quem não estava lá para vê-los. O álbum mais representado no repertório foi o homônimo, de 1996, último e mais celebrado da carreira, mas também houve espaço para canções dos dois antecessores, “40oz. to Freedom” e “Robbin’ the Hood”, além de covers de artistas como The Wailers, representado pela música “Jailhouse”, regravada no disco de 1996.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Infelizmente, Jakob Nowell não carrega o carisma do pai e, além de não ter oferecido grandes atrativos cantando ou tocando, protagonizou um show apático para quem estava ali para ver qualquer outro artista. Diferente das atrações anteriores, que deram o sangue no palco para conquistar o público e agradar a todos os presentes, o Sublime não moveu uma palha para ganhar aqueles que buscavam conferir outras apresentações. Convenhamos: pregar para convertidos não é lá uma tarefa que comprove a competência de alguém.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Mesmo que o baterista Bud Gaugh se destaque, sua dinâmica com o baixo de Eric Wilson, tão importante para bandas de ska, também se tornou maçante depois de poucas músicas. Fora que, carinho por Bradley Nowell à parte, a performance em Curitiba provocou até mesmo o questionamento em torno da decisão da dupla em seguir com o rapaz de 29 anos.

Por mais que grande parte do público presente estivesse curtindo a performance — o final, com “Santeria”, deixou muitas pessoas emocionadas —, o Sublime desperdiçou uma chance de conquistar novos admiradores. E diferente do que foi dito sobre o show de São Paulo, o som na Pedreira estava ótimo. Não havia desculpa.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Offspring

Após uma forte chuva que voltou ao final do show do Sublime e durou praticamente todo o intervalo entre as apresentações, o público voltou à pista cerca de quinze minutos antes do horário marcado para o show começar. Com dez minutos de atraso, às 18h40, as luzes se apagaram e o telão iniciou uma contagem regressiva ao som de “Thunderstruck”, do AC/DC, responsável por levar o público à loucura.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Tal sentimento foi elevado à enésima potência com a trinca inicial que a banda tocou: as clássicas “All I Want”, “Come Out and Play” e “Want You Bad”, entoadas pela plateia a plenos pulmões. O público pulava, se empurrava e curtia como se não houvesse amanhã. Ao final das três músicas, performadas sem parar, os primeiros fogos de artifício foram acionados atrás do palco e finalizaram a catarse inicial de forma brilhante.

Ainda com o cheiro de pólvora no ar, o vocalista e guitarrista Dexter Holland saudou o público pela primeira vez, reconhecendo a incrível empolgação dos presentes. A plateia, há de se dizer, pareceu ter administrado o cansaço perfeitamente, mesmo após um dia lotado de shows super agitados.

Isso foi comprovado ainda mais na próxima canção, “Staring at the Sun”, embalada por um mosh insano que durou até o final da noite, com direito a sapatos voadores — que atingiram este que vos escreve — e a um cidadão que saiu da roda com o supercílio totalmente ensanguentado e precisou buscar ajuda no posto médico. “Genocide”, que ainda não havia sido tocada na turnê, manteve o ritmo lá no alto, e, em seguida, “Come to Brazil”, do disco mais recente, deixou a plateia feliz pela homenagem ao país e entoando gritos de “ole, ole, ole”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Ao contrário do que acontece de alguns anos pra cá, o evento contou com pista única, sem premium, o que fez com que as pessoas que estavam lá na frente fossem de fato fãs devotos, independentemente de condição financeira. Certamente isso contribuiu para a intensidade da energia da plateia.

Sob um palco bastante elaborado, que contava com uma caveira gigante do lado direito, a banda deu sequência com mais três petardos: “Hit That”, “Original Prankster” e “Make it All Right”. Mesmo na última, que pertence ao disco novo, o público pulou e cantou empolgadamente.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Holland reconheceu a devoção do público, dizendo, em de seus diálogos com o guitarrista Noodles ao longo do show, que “eles sabem todas as partes!”. No exagero padrão que é repetido em todas as cidades, o vocalista ganhou pontos com os curitibanos ao classificar a plateia como “a melhor que já tivemos”.

Após mais algumas brincadeiras entre os dois líderes do grupo, Holland deixa o palco e Noodles emenda uma sequência de riffs famosos para manter a plateia aquecida: “Smoke on the Water” (Deep Purple), “Iron Man” (Black Sabbath) e “Back in Black” (AC/DC) precederam uma versão com banda da peça orquestral “In The Hall of the Mountain King”, de Edvard Grieg —um pouco deslocada, mas diverte.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A seção de covers continua com “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones, já com Holland de volta ao palco. Ouviam-se membros um poucos mais velhos da plateia relembrando a longínqua década de 1990, quando ouviram esta e outras canções do “momento tributo” performadas pelos autores originais das canções. Vale lembrar que Deep Purple, Ramones e tanto Ozzy Osbourne quanto Black Sabbath também já tocaram na Pedreira e, é claro, não deixaram essas músicas de fora.

Já se aproximando da reta final do show, a banda emenda “Bad Habit” e “Gone Away” — na versão original, sem piano, resgatada em Curitiba e São Paulo pela primeira vez desde 2020 — logo antes de “Why Don’t You Get a Job?”, um de seus maiores sucessos. Durante a música, plágio famosíssimo de “Ob-La-Di, Ob-La-Da” (Beatles), várias bolas enormes foram jogadas para a plateia, que se divertia ao jogá-las de um lado para o outro enquanto cantava um dos refrães mais “chiclete” da carreira do grupo.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Além das bolas, a produção do show se mostrou bem trabalhada, com fogos de artifício em vários momentos diferentes, papéis picados e fogos em cima do palco. Encerrando o set principal na nota mais alta possível, o grupo engatou novamente a quinta marcha sem parar: “Can’t Get My Head (Around You)”, “Pretty Fly (For a White Guy)” e “The Kids Aren’t Alright”.

Alguns poucos fãs começaram a ir embora, mas logo a banda voltou para um bis que contou com nada mais nada menos do que dois de seus maiores sucessos. “You’re Gonna Go Far, Kid”, de início, acabou responsável por extrair um dos coros mais altos da noite. Após isso, no último diálogo entre Holland e Noodles, o guitarrista classificou o dia como “um dos maiores da história do rock n’ roll”, exaltando todos os grupos que tocaram antes deles e mais uma vez reforçando a influência que o The Damned teve para todos os músicos punk que surgiram a partir de 1976.

O hino noventista “Self Esteem”, encerrado às 20h05 e também entoado a plenos pulmões por praticamente todos os presentes, serviu como um final apoteótico não apenas para o show do Offspring, mas também para um dia inesquecível para os todos os curitibanos fãs de punk.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Offspring — ao vivo em Curitiba

  • Local: Pedreira Paulo Leminski
  • Data: 9 de março de 2025
  • Turnê: Supercharged in ’25 – Punk is Coming!
  • Produção: 30e

Repertório:

1. All I Want
2. Come Out and Play
3. Want You Bad
4. Staring at the Sun
5. Genocide
6. Come to Brazil
7. Hit That
8. Original Prankster
9. Make it All Right
10. Smoke on The Water / Iron Man / Back in Black / In the Hall of the Mountain King
11. Blitzkrieg Bop
12. Bad Habit
13. Gone Away
14. Why Don’t You Get a Job?
15. (Can’t Get My) Head Around You
16. Pretty Fly (For a White Guy)
17. The Kids Aren’t Alright

Bis:

18. You’re Gonna Go Far, Kid
19. Self Esteem

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Texto por Luís S. Bocatios | No último domingo (9), a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, foi palco de seis shows com domínio, mas não exclusividade, do punk rock: Offspring, Sublime, Rise Against, The Damned, The Warning e Amyl & the Sniffers repetiram o lineup do dia anterior, em São Paulo, e ofereceram um dia agradável de shows mesmo com perrengues causados pela chuva e, ao mesmo tempo, um calor infernal.

Por se encontrar em um bairro residencial de Curitiba, a Pedreira Paulo Leminski enfrentou diversas batalhas judiciais ao longo das últimas décadas que envolviam a proibição de shows no local, para não incomodar a população nos arredores. A regra atual diz que os eventos de domingo não podem ultrapassar às 20h. Portanto, era fundamental que as apresentações começassem cedo e não atrasassem.

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Com exceção do The Offspring, que subiu ao palco cerca de quinze minutos após o horário marcado, todos os outros shows começaram pontualmente. Mesmo com intervalos curtos entre uma banda e outra, todas as equipes foram muito hábeis e conseguiram cumprir o planejamento do evento.

Amyl & the Sniffers

Pontualmente às 11h, os australianos da Amyl & the Sniffers subiram ao palco da Pedreira Paulo Leminski, que ainda se encontrava praticamente vazia. Enquanto a vocalista Amy Taylor corria pelo palco saudando o público e o baterista Bryce Wilson se aprontava atrás de seu kit, o baixista Gus Romer e o guitarrista Declan Mehrtens deram um selinho e olharam para o público rindo.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Quando soaram os primeiros acordes de “Security”, que abriu o set, mesmo quem não era familiar com a banda conseguiu perceber do que o show se trataria: um punk rock clássico, da escola setentista, com influência de nomes como Sex Pistols e The Stooges, muito bem feito e executado com enorme energia.

O quarteto rapidamente conquistou o público e apresentou um repertório redondinho composto por doze ótimas músicas que passam por seus três álbuns de estúdio. Agradaram tanto os fãs, que foram à loucura, quanto o público que não conhecia o trabalho do grupo. Com uma presença de palco excelente, sem parar de correr pra lá e pra cá, Amy Taylor fez questão de agradecer repetidamente o público por chegar tão cedo à Pedreira.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A vocalista tem um carisma enorme e passa o show inteiro interagindo com a plateia, sempre encontrando alguém para agitar. Em “Got You”, perto do final do show, ela notou um cartaz que fazia referência à música e não hesitou em correr para a extremidade do palco para apontar para o cartaz e agradecer às fãs que o haviam desenhado.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Além de Taylor, Romer também interage bastante com o público. Em dado momento, ele chega a comandar um coro da plateia com os clássicos gritos de “oi, oi”. Mehrtens, que entrega excelentes riffs e bons solos durante o show inteiro, tem seus momentos de destaque, como na última música, “Hertz”, durante a qual vai ao meio do palco e sola por um pouco mais de tempo, chegando a brincar que vai tocar a guitarra com a língua.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Como bom punk rock clássico, é claro que a banda achou espaço para mandar sua mensagem política: Amy Taylor mandou o bom e velho “f#ck” para o presidente americano Donald Trump e para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Ela perguntou para o público como se diz “f#ck” e “c#nt” em português, e é claro que não houve nenhuma hesitação por parte do público para respondê-la em alto e bom som.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O show da Amyl & the Sniffers foi perfeito: com excelentes músicas, energia contagiante e performances certeiras, a banda fez a alegria dos fãs que estavam lá para vê-las e deixou uma excelente impressão naqueles que ainda não os conhecia. Que tenha sido a primeira de muitas passagens pelo Brasil.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Repertório — Amyl & the Sniffers

1. Security
2. Doing in me Head
3. Chewing Gum
4. It’s Mine
5. Guided by Angels
6. Some Mutts (Can’t be Muzzled)
7. Jerks
8. Tiny Bikini
9. Got You
10. GFY
11. U Should Not Be Doing That
12. Hertz

The Warning

Às 12h10, chegou a vez do trio mexicano The Warning subir ao palco. Composta pelas irmãs Daniela Villarreal (guitarra e vocais), Paulina Villarreal (bateria e vocais) e Alejandra Villarreal (baixo e vocais), a banda foge da estética punk que dominou o dia e apresenta uma sonoridade com certa influência de Queens of the Stone Age e Royal Blood.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Já na primeira música, “S!ck”, ficou notório o poder da cozinha formada por Paulina e Alejandra: o som do bumbo era arrebatador e o baixo soava de forma a fazer a Pedreira pulsar, tornando difícil a tarefa de ficar parado. A guitarra de Daniela também não fica atrás, oferecendo riffs pesados e solos tecnicamente complicados, brincando bastante com diversos pedais diferentes.

Mesmo que todas as integrantes sejam ótimas instrumentistas, o destaque técnico ficou por conta de Paulina, que desce a mão na bateria e eleva o poder da performance ao vivo a outro nível, além de oferecer viradas excelentes, especialmente na penúltima música, “Automatic Sun”. Vale dizer que os timbres mais crus utilizados pelo The Warning ao vivo funcionam muito melhor do que aqueles que estão nos discos, prejudicados por uma produção grandiloquente que deixa a sonoridade um tanto quanto genérica.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Com um repertório focado em seu último álbum de estúdio, “Keep Me Fed” (2024), o trio também conquistou o público logo de cara e, com uma Pedreira já bem mais povoada, contava com bastante fãs na plateia. O set teve apenas 11 músicas, que percorreram cerca de quarenta minutos e deixaram um gosto de “quero mais”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Daniela agradeceu aos fãs e ao Offspring e ressaltou a beleza da Pedreira Paulo Leminski — que, bairrismo à parte, de fato é um dos lugares mais bonitos que recebem shows no Brasil. Ao final do show, a vocalista ainda garantiu aos fãs que logo o trio estaria de volta ao país.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Um fato curioso é que, durante pelo menos 95% da apresentação, apenas a guitarrista era mostrada nos telões. Logo na segunda música, “Z”, que tem uma parte cantada por Paulina, algumas pessoas viram que Daniela estava longe do microfone e começaram a suspeitar de que a banda estava usando playback. O único momento em que a baterista e a baixista apareceram no telão foi durante “Sharks”, na qual Paulina canta os versos.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Mesmo quando Daniela apresentava suas irmãs para o público, a câmera permanecia focada nela, o que gerou certo constrangimento no público, que eventualmente passou a achar a situação divertida. Ouviam-se comentários como “namore alguém que gosta de você tanto quanto o câmera gosta da vocalista”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A esquisitice que se viu nos telões, é claro, não prejudicou a performance do grupo, que deixou uma excelente impressão no público. Levando em conta o número de fãs que se via na plateia, o trio já parece pronto para voltar ao Brasil em uma apresentação solo nos próximos anos.

Repertório — The Warning:

1. S!CK
2. Z
3. Que Más Quieres
4. Satisfied
5. Apologize
6. More
7. Sharks
8. Disciple
9. Hell You Call a Dream
10. Automatic Sun
11. Evolve

The Damned

Se relevância histórica fosse o único critério para definir a ordem na qual as bandas se apresentariam, não há dúvidas de que a lendária The Damned seria a escolhida para fechar a noite. Para entender a importância do grupo, basta saber que pertence a eles o primeiro compacto da história do punk inglês, “New Rose”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Junto ao Buzzcocks (que visita Curitiba no próximo dia 25 de maio), a banda também está entre as precursoras de uma série de ramificações do punk, com uma discografia que passeia por momentos mais comerciais que tocam em estilos como o rock gótico e o pós-punk, se tornando uma referência enorme para grupos como Green Day e o próprio Offspring. Mesmo sem a energia de outrora (afinal de contas, o membro mais novo tem 63 anos), The Damned entrega um show conciso que passa por todas as vertentes de seu som.

A essa hora, 13h20, o calor já começava a se tornar difícil de suportar. Mesmo assim, o vocalista Dave Vanian não abriu mão de seu figurino estiloso, formado por uma jaqueta e um lenço amarrado ao pescoço. Se existe algo mais punk do que usar uma jaqueta preta em um calor de trinta graus, eu não sei. Antes da quinta música, “Stranger on the Town”, o calor falou mais alto e Vanian abriu mão do casaco.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Com seus óculos escuros que o dão um ar de Keith Richards, o guitarrista e originalmente baixista Captain Sensible assume um papel quase de co-frontman, se comunicando com o público ainda mais do que o vocalista. O baixista Paul Gray e o tecladista Monty Oxymoron ficam mais na deles, enquanto o lendário baterista Rat Scabies, um dos grandes do punk, tem uma ótima performance para seus 69 anos.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

O quinteto ainda lembrou da morte do membro-fundador Brian James, ocorrida na última quinta-feira (6), um dia antes do primeiro show nesta turnê nacional. O guitarrista, que deixou a banda em 1978 e retornou para algumas turnês especiais ao longo dos anos, foi lembrado em dois momentos: o primeiro, quando a música “Fan Club” foi dedicada a ele; o segundo, quando, em “New Rose”, a penúltima do show, sua imagem foi projetada no telão.

Antes da última música, Captain Sensible agradeceu ao público e ao Offspring, mesmo que, segundo ele, “eles tenham roubado uma de nossas músicas”, dedicando à banda californiana a última canção do show, “Smash it Up”. Após o grupo se despedir, Dave Vanian proferiu as últimas palavras do The Damned nessa passagem pelo Brasil: “muito calor”; em português, mas com o sotaque britânico mais carregado possível.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Mesmo que o público em geral parecesse pouco familiarizado com o repertório, era possível observar vários fãs mais velhos emocionados e cantando todas as músicas. Ao final do show, os aplausos fervorosos mostraram que a plateia reconheceu a importância do The Damned e a oportunidade rara de testemunhar a apresentação de um dos grupos seminais da história do punk.

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Repertório — The Damned

1. Love Song
2. Machine Gun Etiquette
3. Wait for the Blackout
4. Lively Arts
5. The History of the World (Part 1)
6. Stranger on the Town
7. Fan Club
8. Eloise
9. Born to Kill
10. Noise Noise Noise
11. Ignite
12. Neat Neat Neat
13. New Rose
14. Smash it Up (Part 1)
15. Smash it Up (Part 2)

Rise Against

Às 14h40, quando o Rise Against subiu ao palco, o calor que fazia na Pedreira Paulo Leminski já beirava o insuportável. O termômetro marcava 31 graus e o sol estava mais forte do que nunca. A essa altura, no entanto, o local já estava praticamente lotado.

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Ao medir pelo número de camisetas na plateia e pelas conversas que se ouvia pela Pedreira, o Rise Against só não era mais esperado do que o Offspring; ou seja, mesmo com o calor tunisiano que fazia, a banda teve em suas mãos um público altamente engajado. O quarteto formado por Tim McIlrath (guitarra e vocais), Zach Blair (guitarra), Joe Principe (baixo) e Brandon Barnes (bateria) apresentou um repertório de doze músicas e foi consagrado pelo público curitibano.

Já nas duas primeiras canções, era nítida a empolgação da plateia, mas, a partir do hit “Give it All”, mesmo os fãs que buscavam alguma sombra para se esconder do sol abriram mão de seu próprio bem-estar e correram para o meio do público. Na primeira interação com o público, McIlrath exaltou as bandas que tocaram anteriormente, pedindo aplausos para Amyl & the Sniffers, The Warning e, principalmente, The Damned, ressaltando que o grupo britânico pavimentou a estrada para que artistas mais novos pudessem andar.

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Outra comunicação com a plateia se deu antes de “Prayer of the Refugee”. Aqui, o vocalista ressaltou que a música e a banda eram contra autoritarismo, fascismo, racismo, sexismo e homofobia. Diferente de outros shows na capital paranaense (mais notadamente o de Roger Waters, na véspera das eleições presidenciais de 2018), o público não reclamou; pelo contrário, os aplausos para a fala foram sonoros.

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Após um declínio na energia do show com a balada “Swing Life Away” — durante a qual Tim McIlrath fica sozinho no palco com seu violão —, a apresentação é encerrada lá no alto com “Make it Stop (September’s Children)” e “Savior”. O quarteto saiu do palco sob aplausos entusiasmados do público que resistiu ao calor intenso para curtir o show de uma das bandas mais celebradas do punk rock dos anos 2000.

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Repertório — Rise Against

1. Re-Education (Through Labor)
2. The Violence
3. Give It All
4. Help is on the Way
5. The Good Left Undone
6. Satellite
7. Nod
8. Ready to Fall
9. Prayer of the Refugee
10. Swing Life Away
11. Make it Stop (September’s Children)
12. Savior

Sublime

No momento em que soou o primeiro acorde de “Date Rape”, que abriu o show do Sublime, um cheiro bastante curioso passou a pairar sobre a Pedreira Paulo Leminski. Digamos que as árvores que contornam a Pedreira não eram o único verde do local.

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O público curtia, dançava e cantava junto, até que, na terceira música, caiu uma forte chuva responsável por diminuir consideravelmente o abafamento que tomava conta do local e tornar a temperatura muito mais agradável. O aguaceiro se dissipou — e para o clima ficar mais perfeito em meio à apresentação, só se uma cratera em formato de pista de skate se abrisse no chão da Pedreira.

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O trio californiano de ska-punk, reunido em 2023, California, atualmente conta com dois membros da formação original, o baixista Eric Wilson e o baterista Bud Gaugh. Eles se juntaram ao vocalista e guitarrista Jakob Nowell, filho do membro fundador Bradley Nowell, falecido em 1996. A banda ainda conta com o guitarrista de apoio Trey Pangborn e o DJ Product.

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O repertório se mostrou um deleite para os fãs do Sublime que queriam relembrar sua adolescência — ainda que soasse repetitivo para quem não estava lá para vê-los. O álbum mais representado no repertório foi o homônimo, de 1996, último e mais celebrado da carreira, mas também houve espaço para canções dos dois antecessores, “40oz. to Freedom” e “Robbin’ the Hood”, além de covers de artistas como The Wailers, representado pela música “Jailhouse”, regravada no disco de 1996.

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Infelizmente, Jakob Nowell não carrega o carisma do pai e, além de não ter oferecido grandes atrativos cantando ou tocando, protagonizou um show apático para quem estava ali para ver qualquer outro artista. Diferente das atrações anteriores, que deram o sangue no palco para conquistar o público e agradar a todos os presentes, o Sublime não moveu uma palha para ganhar aqueles que buscavam conferir outras apresentações. Convenhamos: pregar para convertidos não é lá uma tarefa que comprove a competência de alguém.

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Mesmo que o baterista Bud Gaugh se destaque, sua dinâmica com o baixo de Eric Wilson, tão importante para bandas de ska, também se tornou maçante depois de poucas músicas. Fora que, carinho por Bradley Nowell à parte, a performance em Curitiba provocou até mesmo o questionamento em torno da decisão da dupla em seguir com o rapaz de 29 anos.

Por mais que grande parte do público presente estivesse curtindo a performance — o final, com “Santeria”, deixou muitas pessoas emocionadas —, o Sublime desperdiçou uma chance de conquistar novos admiradores. E diferente do que foi dito sobre o show de São Paulo, o som na Pedreira estava ótimo. Não havia desculpa.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Offspring

Após uma forte chuva que voltou ao final do show do Sublime e durou praticamente todo o intervalo entre as apresentações, o público voltou à pista cerca de quinze minutos antes do horário marcado para o show começar. Com dez minutos de atraso, às 18h40, as luzes se apagaram e o telão iniciou uma contagem regressiva ao som de “Thunderstruck”, do AC/DC, responsável por levar o público à loucura.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Tal sentimento foi elevado à enésima potência com a trinca inicial que a banda tocou: as clássicas “All I Want”, “Come Out and Play” e “Want You Bad”, entoadas pela plateia a plenos pulmões. O público pulava, se empurrava e curtia como se não houvesse amanhã. Ao final das três músicas, performadas sem parar, os primeiros fogos de artifício foram acionados atrás do palco e finalizaram a catarse inicial de forma brilhante.

Ainda com o cheiro de pólvora no ar, o vocalista e guitarrista Dexter Holland saudou o público pela primeira vez, reconhecendo a incrível empolgação dos presentes. A plateia, há de se dizer, pareceu ter administrado o cansaço perfeitamente, mesmo após um dia lotado de shows super agitados.

Isso foi comprovado ainda mais na próxima canção, “Staring at the Sun”, embalada por um mosh insano que durou até o final da noite, com direito a sapatos voadores — que atingiram este que vos escreve — e a um cidadão que saiu da roda com o supercílio totalmente ensanguentado e precisou buscar ajuda no posto médico. “Genocide”, que ainda não havia sido tocada na turnê, manteve o ritmo lá no alto, e, em seguida, “Come to Brazil”, do disco mais recente, deixou a plateia feliz pela homenagem ao país e entoando gritos de “ole, ole, ole”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Ao contrário do que acontece de alguns anos pra cá, o evento contou com pista única, sem premium, o que fez com que as pessoas que estavam lá na frente fossem de fato fãs devotos, independentemente de condição financeira. Certamente isso contribuiu para a intensidade da energia da plateia.

Sob um palco bastante elaborado, que contava com uma caveira gigante do lado direito, a banda deu sequência com mais três petardos: “Hit That”, “Original Prankster” e “Make it All Right”. Mesmo na última, que pertence ao disco novo, o público pulou e cantou empolgadamente.

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Holland reconheceu a devoção do público, dizendo, em de seus diálogos com o guitarrista Noodles ao longo do show, que “eles sabem todas as partes!”. No exagero padrão que é repetido em todas as cidades, o vocalista ganhou pontos com os curitibanos ao classificar a plateia como “a melhor que já tivemos”.

Após mais algumas brincadeiras entre os dois líderes do grupo, Holland deixa o palco e Noodles emenda uma sequência de riffs famosos para manter a plateia aquecida: “Smoke on the Water” (Deep Purple), “Iron Man” (Black Sabbath) e “Back in Black” (AC/DC) precederam uma versão com banda da peça orquestral “In The Hall of the Mountain King”, de Edvard Grieg —um pouco deslocada, mas diverte.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A seção de covers continua com “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones, já com Holland de volta ao palco. Ouviam-se membros um poucos mais velhos da plateia relembrando a longínqua década de 1990, quando ouviram esta e outras canções do “momento tributo” performadas pelos autores originais das canções. Vale lembrar que Deep Purple, Ramones e tanto Ozzy Osbourne quanto Black Sabbath também já tocaram na Pedreira e, é claro, não deixaram essas músicas de fora.

Já se aproximando da reta final do show, a banda emenda “Bad Habit” e “Gone Away” — na versão original, sem piano, resgatada em Curitiba e São Paulo pela primeira vez desde 2020 — logo antes de “Why Don’t You Get a Job?”, um de seus maiores sucessos. Durante a música, plágio famosíssimo de “Ob-La-Di, Ob-La-Da” (Beatles), várias bolas enormes foram jogadas para a plateia, que se divertia ao jogá-las de um lado para o outro enquanto cantava um dos refrães mais “chiclete” da carreira do grupo.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Além das bolas, a produção do show se mostrou bem trabalhada, com fogos de artifício em vários momentos diferentes, papéis picados e fogos em cima do palco. Encerrando o set principal na nota mais alta possível, o grupo engatou novamente a quinta marcha sem parar: “Can’t Get My Head (Around You)”, “Pretty Fly (For a White Guy)” e “The Kids Aren’t Alright”.

Alguns poucos fãs começaram a ir embora, mas logo a banda voltou para um bis que contou com nada mais nada menos do que dois de seus maiores sucessos. “You’re Gonna Go Far, Kid”, de início, acabou responsável por extrair um dos coros mais altos da noite. Após isso, no último diálogo entre Holland e Noodles, o guitarrista classificou o dia como “um dos maiores da história do rock n’ roll”, exaltando todos os grupos que tocaram antes deles e mais uma vez reforçando a influência que o The Damned teve para todos os músicos punk que surgiram a partir de 1976.

O hino noventista “Self Esteem”, encerrado às 20h05 e também entoado a plenos pulmões por praticamente todos os presentes, serviu como um final apoteótico não apenas para o show do Offspring, mas também para um dia inesquecível para os todos os curitibanos fãs de punk.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Offspring — ao vivo em Curitiba

  • Local: Pedreira Paulo Leminski
  • Data: 9 de março de 2025
  • Turnê: Supercharged in ’25 – Punk is Coming!
  • Produção: 30e

Repertório:

1. All I Want
2. Come Out and Play
3. Want You Bad
4. Staring at the Sun
5. Genocide
6. Come to Brazil
7. Hit That
8. Original Prankster
9. Make it All Right
10. Smoke on The Water / Iron Man / Back in Black / In the Hall of the Mountain King
11. Blitzkrieg Bop
12. Bad Habit
13. Gone Away
14. Why Don’t You Get a Job?
15. (Can’t Get My) Head Around You
16. Pretty Fly (For a White Guy)
17. The Kids Aren’t Alright

Bis:

18. You’re Gonna Go Far, Kid
19. Self Esteem

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