São Paulo — A prefeitura suspendeu a construção do túnel após recomendação do Ministério Público de São Paulo (MPSP), mas a Rua Sena Madureira, na Vila Mariana, na zona sul, segue com tapumes e buracos que encolhem a via. A administração municipal pretende fazer uma nova licitação, afirmou que o canteiro de obras será removido, o trecho afetado, recomposto, mas não deu prazo para que isso aconteça e também não disse quem vai pagar para deixar a via como antes.
A suspensão da construção do túnel da Sena Madureira foi anunciada no último dia 5, depois que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ouviu do MPSP que seria melhor fazer nova licitação ao invés de dar sequência a uma que tinha a comprovação de crimes, fraudes e superfaturamento de preços de pelo menos 10,8% no processo licitatório originário de obras do Programa do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo, ainda na década passada.
A Sena Madureira contava com três faixas em cada sentido de direção e ciclovia. Com o início das obras, a prefeitura derrubou árvores e instalou tapumes que tomaram uma faixa de cada lado, além de acabar com a ciclovia, em um trecho de cerca de 500 metros. O estreitamento agravou os congestionamentos no local, que são frequentes. Duas semanas após Nunes anunciar a suspensão da obra e a intenção de fazer uma nova licitação, o lugar segue como um canteiro de obras, carros continuam espremidos e bicicletas não têm por onde passar.
A situação para quem passa pela Sena Madureira piora por causa do asfalto irregular. Entre as ruas Coronel Lisboa e Marselhesa, em direção ao Parque Ibirapuera, um buraco ficou aberto por semanas, com um cone na frente. Foi tapado, mas reabriu, após as chuvas da última semana. E o cone voltou a ser colocado no local, como o Metrópoles constatou na terça-feira (18/2), obrigando motoristas a fazerem manobras bruscas.
Na prática, as duas faixas restantes da Sena Madureira se tornaram uma única naquele ponto onde há o buraco sinalizado pelo cone, criando um funil que represa o trânsito local e aumenta o risco de acidentes.
O borracheiro Joselito Ferreira de Andrade, 54 anos, trabalha bem próximo ao buraco e diz que demorou para a prefeitura se mexer, mas o serviço não durou nada. “Fez dois meses [de buraco] e consertaram. A chuva de sexta-feira levou tudo embora e ficou pior”, afirma.
O estreitamento também faz com que carros que circulam pela faixa da esquerda passem com os retrovisores colados aos tapumes.
O empresário João Paulo Santos, 50 anos, diz que a situação é tão crítica que, agora, após a instalação dos tapumes, é provável que fique caro para recuperar as duas faixas e a ciclovia suprimidas. “Fica muito apertado. Tinha três faixas, agora são duas e o volume de tráfego é muito grande de carros, não para.”
O faxineiro Demerval dos Santos, 36 anos, já viu até brigas provocadas pelo estreitamento da via. “Ontem mesmo, vi um motoboy que, ao passar, bateu no retrovisor. O rapaz do carro saiu atrás do motoqueiro e por sorte não conseguiu acompanhar.”
Desejada há anos pelo ciclistas por ser um caminho seguro até o Parque Ibirapuera, a ciclovia foi extinta no trecho entre as ruas Domingos de Morais e Botucatu. A sugestão da prefeitura para quem pedala é dar uma volta até a ciclovia da Rua França Pinto, cerca de 1,5 km distante. Como a volta não compensa, não é incomum encontrar bicicletas circulando pelas calçadas da própria Sena Madureira.
Investigação: obras no túnel
- Inicialmente, a construção da prefeitura era tocada pela Álya Construtora, antiga Queiroz Galvão, e já é alvo de três inquéritos no MPSP. O projeto estabelecia também a remoção de dezenas de famílias da comunidade da Rua Souza Ramos.
- No pedido de paralisação das obras feito pelo Ministério Público, foram apresentadas 38 considerações, sendo a maioria sobre os danos ao meio ambiente que as obras podem causar.
- O MPSP usa como base em um dos trechos o dado de que a Subprefeitura da Vila Mariana possui apenas 22,69% de área com cobertura vegetal, de acordo com o Mapeamento Digital da Cobertura Vegetal do Município de São Paulo do ano 2020.
- Contratada originalmente em 2011, a obra foi suspensa, em 2013, no âmbito da Operação Lava Jato, após as empreiteiras contratadas pela prefeitura terem sido pegas em esquemas de corrupção.
- Segundo o MPSP, a retomada das obras do Complexo Viário Sena Madureira ocorreu de forma abrupta e repentina, o que levanta a existência de riscos envolvendo a população imediatamente afetada.
Árvores
Além dos problemas no viário, o abandono do canteiro de obras expõe também o fato de que árvores foram cortadas pela gestão de Nunes.
Entre as ações movidas pelo MPSP, o promotor Carlos Henrique Camargo apontou em uma delas que a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito autorizou a derrubada de 172 árvores — 78 nativas e 94 exóticas — e que isso “ocasionará irreparável dano ambiental”.
A construção do túnel também afetaria aproximadamente 200 famílias que residem em uma comunidade na Souza Ramos. O MPSP considerou que as pessoas teriam “que deixar o local para a concretização das obras e serem realocadas em outro não se sabendo ao certo onde, e a que título, desrespeitando assim a Constituição Federal, que a assegura o direito à moradia digna”.
A construção do túnel da Sena Madureira gerou protestos e revolta entre parte da população do bairro, que aponta a obra como ineficiente, além de causar danos ambientais irreversíveis.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de São Paulo afirmou que, segundo a Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito (Semtra), a via segue com sinalizações de orientação e iluminação noturna para garantir a segurança e “está em elaboração um plano de desmobilização da obra para que sejam feitas, de forma segura, a retirada dos materiais, recomposição do pavimento da via e reimplantação da ciclovia existente no trecho”. Até a publicação da reportagem, a prefeitura não deu prazo para deixar a Sena Madureira como estava antes do início das obras. “Somente após finalizado o plano, será possível estabelecer o cronograma”, disse.
A prefeitura também não explicou quanto custará essa obra para deixar a Sena Madureira como anteriormente e nem quem vai pagar por isso.
“A alternativa cicloviária existente na Rua França Pinto foi reformada recentemente e é amplamente utilizada pelos ciclistas da região, sendo paralela à Sena Madureira. Os ciclistas também podem circular pelas ruas paralelas à rua Sena Madureira, sempre respeitando as regras de trânsito”, disse, em nota.
Sobre o buraco na altura da Praça Adélia Bastos Birkholz, a Secretaria Municipal das Subprefeituras disse que “o serviço de manutenção asfáltica” está agendado para essa quarta (19/2).
São Paulo — A prefeitura suspendeu a construção do túnel após recomendação do Ministério Público de São Paulo (MPSP), mas a Rua Sena Madureira, na Vila Mariana, na zona sul, segue com tapumes e buracos que encolhem a via. A administração municipal pretende fazer uma nova licitação, afirmou que o canteiro de obras será removido, o trecho afetado, recomposto, mas não deu prazo para que isso aconteça e também não disse quem vai pagar para deixar a via como antes.
A suspensão da construção do túnel da Sena Madureira foi anunciada no último dia 5, depois que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ouviu do MPSP que seria melhor fazer nova licitação ao invés de dar sequência a uma que tinha a comprovação de crimes, fraudes e superfaturamento de preços de pelo menos 10,8% no processo licitatório originário de obras do Programa do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo, ainda na década passada.
A Sena Madureira contava com três faixas em cada sentido de direção e ciclovia. Com o início das obras, a prefeitura derrubou árvores e instalou tapumes que tomaram uma faixa de cada lado, além de acabar com a ciclovia, em um trecho de cerca de 500 metros. O estreitamento agravou os congestionamentos no local, que são frequentes. Duas semanas após Nunes anunciar a suspensão da obra e a intenção de fazer uma nova licitação, o lugar segue como um canteiro de obras, carros continuam espremidos e bicicletas não têm por onde passar.
A situação para quem passa pela Sena Madureira piora por causa do asfalto irregular. Entre as ruas Coronel Lisboa e Marselhesa, em direção ao Parque Ibirapuera, um buraco ficou aberto por semanas, com um cone na frente. Foi tapado, mas reabriu, após as chuvas da última semana. E o cone voltou a ser colocado no local, como o Metrópoles constatou na terça-feira (18/2), obrigando motoristas a fazerem manobras bruscas.
Na prática, as duas faixas restantes da Sena Madureira se tornaram uma única naquele ponto onde há o buraco sinalizado pelo cone, criando um funil que represa o trânsito local e aumenta o risco de acidentes.
O borracheiro Joselito Ferreira de Andrade, 54 anos, trabalha bem próximo ao buraco e diz que demorou para a prefeitura se mexer, mas o serviço não durou nada. “Fez dois meses [de buraco] e consertaram. A chuva de sexta-feira levou tudo embora e ficou pior”, afirma.
O estreitamento também faz com que carros que circulam pela faixa da esquerda passem com os retrovisores colados aos tapumes.
O empresário João Paulo Santos, 50 anos, diz que a situação é tão crítica que, agora, após a instalação dos tapumes, é provável que fique caro para recuperar as duas faixas e a ciclovia suprimidas. “Fica muito apertado. Tinha três faixas, agora são duas e o volume de tráfego é muito grande de carros, não para.”
O faxineiro Demerval dos Santos, 36 anos, já viu até brigas provocadas pelo estreitamento da via. “Ontem mesmo, vi um motoboy que, ao passar, bateu no retrovisor. O rapaz do carro saiu atrás do motoqueiro e por sorte não conseguiu acompanhar.”
Desejada há anos pelo ciclistas por ser um caminho seguro até o Parque Ibirapuera, a ciclovia foi extinta no trecho entre as ruas Domingos de Morais e Botucatu. A sugestão da prefeitura para quem pedala é dar uma volta até a ciclovia da Rua França Pinto, cerca de 1,5 km distante. Como a volta não compensa, não é incomum encontrar bicicletas circulando pelas calçadas da própria Sena Madureira.
Investigação: obras no túnel
- Inicialmente, a construção da prefeitura era tocada pela Álya Construtora, antiga Queiroz Galvão, e já é alvo de três inquéritos no MPSP. O projeto estabelecia também a remoção de dezenas de famílias da comunidade da Rua Souza Ramos.
- No pedido de paralisação das obras feito pelo Ministério Público, foram apresentadas 38 considerações, sendo a maioria sobre os danos ao meio ambiente que as obras podem causar.
- O MPSP usa como base em um dos trechos o dado de que a Subprefeitura da Vila Mariana possui apenas 22,69% de área com cobertura vegetal, de acordo com o Mapeamento Digital da Cobertura Vegetal do Município de São Paulo do ano 2020.
- Contratada originalmente em 2011, a obra foi suspensa, em 2013, no âmbito da Operação Lava Jato, após as empreiteiras contratadas pela prefeitura terem sido pegas em esquemas de corrupção.
- Segundo o MPSP, a retomada das obras do Complexo Viário Sena Madureira ocorreu de forma abrupta e repentina, o que levanta a existência de riscos envolvendo a população imediatamente afetada.
Árvores
Além dos problemas no viário, o abandono do canteiro de obras expõe também o fato de que árvores foram cortadas pela gestão de Nunes.
Entre as ações movidas pelo MPSP, o promotor Carlos Henrique Camargo apontou em uma delas que a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito autorizou a derrubada de 172 árvores — 78 nativas e 94 exóticas — e que isso “ocasionará irreparável dano ambiental”.
A construção do túnel também afetaria aproximadamente 200 famílias que residem em uma comunidade na Souza Ramos. O MPSP considerou que as pessoas teriam “que deixar o local para a concretização das obras e serem realocadas em outro não se sabendo ao certo onde, e a que título, desrespeitando assim a Constituição Federal, que a assegura o direito à moradia digna”.
A construção do túnel da Sena Madureira gerou protestos e revolta entre parte da população do bairro, que aponta a obra como ineficiente, além de causar danos ambientais irreversíveis.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de São Paulo afirmou que, segundo a Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito (Semtra), a via segue com sinalizações de orientação e iluminação noturna para garantir a segurança e “está em elaboração um plano de desmobilização da obra para que sejam feitas, de forma segura, a retirada dos materiais, recomposição do pavimento da via e reimplantação da ciclovia existente no trecho”. Até a publicação da reportagem, a prefeitura não deu prazo para deixar a Sena Madureira como estava antes do início das obras. “Somente após finalizado o plano, será possível estabelecer o cronograma”, disse.
A prefeitura também não explicou quanto custará essa obra para deixar a Sena Madureira como anteriormente e nem quem vai pagar por isso.
“A alternativa cicloviária existente na Rua França Pinto foi reformada recentemente e é amplamente utilizada pelos ciclistas da região, sendo paralela à Sena Madureira. Os ciclistas também podem circular pelas ruas paralelas à rua Sena Madureira, sempre respeitando as regras de trânsito”, disse, em nota.
Sobre o buraco na altura da Praça Adélia Bastos Birkholz, a Secretaria Municipal das Subprefeituras disse que “o serviço de manutenção asfáltica” está agendado para essa quarta (19/2).