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13 Mar 2025, Thu

Geyson Luiz reflete sobre Sintonia: “Dá voz às periferias do Brasil”

Geyson Luiz


A quinta e última temporada de Sintonia estreou em fevereiro, e Geyson Luiz, que interpreta Bagre, um detento veterano, reflete sobre o impacto da série no público. Em entrevista à coluna Fábia Oliveira, o ator destacou que a trama vai além do entretenimento, promovendo reflexões sobre a periferia e suas dinâmicas.

“Sintonia dialoga com todas as periferias do nosso país; sua linguagem é única e começa a partir da memória e dos sonhos de ser brasileiro”, afirmou o artista, que também ganhou notoriedade com Lama dos Dias e Cangaço Novo.

Com uma trajetória consolidada no cinema e nas séries nacionais, Geyson relembrou o convite para integrar o elenco da produção da Netflix e a construção de seu personagem. “Bagre é uma peça fundamental para o desenvolvimento da obra. Ele traz consigo a narrativa da necessidade de resolver problemas e a perversão do poder sobre Nando”, explicou.

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Sintonia – 5ª temporada

Divulgação

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Geyson Luiz

Reprodução/Instagram

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O ator também celebra sua experiência em Cangaço Novo, destacando a visibilidade que a produção trouxe para talentos do cinema nordestino. Nascido em Pernambuco e com uma carreira que começou no teatro de rua, Geyson nunca perdeu a conexão com suas raízes.

“Meus planos são levar o cinema nordestino para todos os lugares do mundo”, declarou.

Leia a entrevista completa com Geyson Luiz:

Uma nova temporada de Sintonia está prestes a estrear. Como está sendo a expectativa para o episódio final da série que ficou entre as mais assistidas da Netflix?
Estou feliz com o resultado do projeto que, há anos, vem encantando o público brasileiro ao contar histórias sobre a periferia, com a diversidade de um elenco primoroso. A quinta e última temporada da série Sintonia chegou a todos os cantos do país, do interior à capital. O público está descobrindo diversos talentos no streaming, e a nova temporada chega com intensidade.

A série convida à reflexão em comunidade e à ação por meio da linguagem audiovisual, em tempos de carência de leitura e interpretação textual, em tempos em que não se sabe ouvir antes de falar, em tempos em que não há esforço para compreender um pensamento contrário ao que se acredita. Sintonia traz diversidade e representatividade, contribuindo para a formação de um público mais consciente e crítico. A série dialoga com todas as periferias do nosso país; sua linguagem é única e começa a partir da memória e dos sonhos de ser brasileiro.

Como surgiu o convite para atuar em uma produção na plataforma?
O convite surgiu da produtora Gullane para dar vida a um personagem “chave” na trama. Havia uma referência à minha criação do “PINO”, da série Cangaço Novo, não pelo temperamento expansivo da personagem, que é destacado na série da Prime Video, mas pela consciência dialética de sua construção, de ampliar a narrativa a partir da perspectiva da personagem. É isso que faz do “BAGRE”, em Sintonia, uma peça fundamental para o desenvolvimento da obra.

Embora Bagre seja um personagem de passagem na história, ele traz consigo a narrativa da necessidade de resolver problemas e a perversão do poder sobre Nando, diante de uma decisão arriscada e difícil.

Você também está no elenco de Lama dos Dias, que está no catálogo da Globoplay. Pode nos dar detalhes deste trabalho?
Em 2017, iniciei minha carreira no cinema com o diretor e roteirista pernambucano Hilton Lacerda. Surgiu a oportunidade de compor o elenco da primeira temporada de “Lama dos Dias”, sendo indicado por Irandhir Santos, um artista que admiro desde a infância por sua trajetória no teatro, no cinema e na televisão. Após os testes feitos para a série, tive a oportunidade de ser convidado e, anos depois, tornar-me protagonista da segunda temporada, disponível no Globoplay.

O personagem Farmácia está mais certo de seus objetivos, porém enfrenta dificuldades para lidar com as consequências. No início da primeira temporada, encontramos Farmácia cheio de dúvidas; agora, mais preciso em suas decisões, ele se depara com a realidade diante de seus olhos e descobre, por meio da própria arte e da conexão com seus amigos, as razões que o fazem ser quem ele é. O Farmácia — ou Jorge Aleixo — é chato, sarcástico, insuportável e egocêntrico. No entanto, sua sensibilidade em relação a tudo ao seu redor é o que desperta a vontade de conhecê-lo melhor. Sua chatice funciona como um véu que esconde uma peculiaridade, fazendo com que todos se conectem e queiram estar perto do Farma.

A vida passou diante dos meus olhos. Eu tinha 19 anos quando gravamos a primeira temporada, e Lama dos Dias deu início a uma caminhada cinematográfica, abrindo portas e permitindo estar presente em diversas outras obras do audiovisual brasileiro.

Você também fez parte do Cangaço Novo. Como foi atuar ao lado de grandes nomes? Você esperava tanta visibilidade com esse projeto?
Todos os grandes nomes do cinema nacional tiveram o seu início, e Cangaço Novo é um projeto que escancarou para o público de todo o Brasil os grandes nomes do cinema independente. Foi o meu primeiro projeto de proporção internacional, e eu já imaginava que ele teria um alcance muito significativo, não só pela minha entrega, mas também pela dedicação de todos os meus companheiros de cena. Ser preparado por Fátima Toledo foi um divisor de águas, não apenas por eu ter me identificado com o seu método, mas também pela importância que ele teve na minha trajetória.

O Cangaço Novo foi fundamental para que o público, tanto dentro quanto fora do país, conhecesse um pouco mais da nossa arte. Assim como todos do elenco, venho de uma trajetória de filmes nordestinos que se destacaram em festivais no Brasil e no mundo. Cangaço Novo despertou um olhar mais atento para os grandes talentos que o cinema nordestino tem revelado. É importante para o público ter acesso à cultura, não apenas pela credibilidade de mostrar o meu trabalho, mas também para que o próprio público reconheça o valor do que é criado e contado sobre a nossa arte e a nossa cultura.

Você é formado em licenciatura em teatro, certo? Pretende seguir na profissão? Já existe algum plano?
Estou em processo de formação no curso de Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal da Paraíba. Atuo na profissão desde os meus 7 anos de idade, quando iniciei minha carreira no teatro em Pernambuco. Uma das grandes certezas da minha infância era buscar um caminho no qual eu pudesse me aprofundar no meu processo artístico, seja por meio da dança urbana, seja pelo meu encontro com a palhaçaria no circo. A universidade tem esse peso de me permitir aprofundar minhas pesquisas sobre o mundo mágico de ser ator.

É fundamental para todos os cidadãos que se interessam pelo estudo, além de se profissionalizar, buscar conhecimento. Vivemos a vida aprendendo, e a universidade é uma janela para novos horizontes. Além de artista, sou pesquisador da performance, do trabalho do ator e seu caráter social, político, artístico e cultural. Vivo seguindo com a necessidade de comunicar e de experienciar o intenso agora.

Em Boyzin, um curta, você foi reconhecido com o prêmio Aruanda. Como foi ganhar a disputa?
O curta Boyzin rodou vários festivais no exterior, apresentando uma performance energética de um dançarino de brega funk. O filme ganhou reconhecimento no estado de origem, na Paraíba. Boyzin nasce em um período efervescente do cinema paraibano, o que chamamos de Novíssimo Cinema Parahybano, no qual surge uma nova geração de diretores e roteiristas, como o próprio diretor do filme, R.B. Lima. Esses profissionais vêm ganhando destaque em festivais e no mercado audiovisual paraibano, que está em ascensão nos últimos anos. Um exemplo é o Fest Aruanda, que se tornou um dos festivais mais celebrados e importantes do audiovisual brasileiro. Em 2021, o filme foi premiado na 16ª edição do festival.

Você saiu de casa em busca de trabalhar com artes cênicas? Como foi esse caminho? Você morou, de fato, nas ruas?
Não havia uma perspectiva de vida futura para um pirralho como eu. O incentivo artístico surgiu de uma mistura de inspiração e realidade, que me afetava profundamente na minha infância. A visceralidade dos fatos de um ambiente caótico e efêmero tornava a arte uma tradução de inquietude e vulnerabilidade escancarada de um pirralho que adormecia com pesadelos sobre os homens e acordava cheio de sonhos vivos.

O teatro foi um divisor de águas. No pátio da minha cidade natal, onde aconteciam os eventos, apareceu uma trupe circense de palhaços. Aquilo me encantou de uma forma tão forte e profunda que comecei a crer num caminho que eu poderia traçar em diante. Então, comecei a fazer teatro na escola aos 7 anos de idade. Não há romantismo em uma vida dura, onde os sonhos são colocados à prova de fogo. A cada instante, é possível ser digno do que se ama, do que nos fortalece, e poder, arduamente, dar um passo de cada vez e celebrar a vida com poesia. As ruas foram um momento decisivo, onde eu fazia o que acreditava ser possível a cada instante. Um dia vivido nas ruas tinha a sensação de ser interminável, e a maneira de se sustentar era tensa, triste e solitária. No entanto, eu acreditava poder levar alegria às faixas de pedestres, juntando moeda por moeda, pintando o rosto e acreditando, todos os dias, que a vida presta. Meu palhaço, o Pupilo, nasce nas ruas de Belo Horizonte, mas carrega consigo a natureza brincante do terreiro de minha terra.

Há algum convite para atuar na TV aberta? Você sente vontade?
Existe um imenso interesse em atuar na TV aberta, mas há limitações que “não estão ao meu alcance”. Venho conquistando espaços de co-protagonismo em diversos projetos que exigiram versatilidade em meu trabalho. No entanto, como artista periférico, sei que quem vem da margem precisa fazer um esforço multiplicado diante das circunstâncias que sempre nos desafiam, como a necessidade de sobrevivência.

Já perdi projetos por ser questionado sobre o número de seguidores, mas ainda acredito que o público sempre terá certeza quando encontrar um ator que se entrega de corpo e alma, que se preocupa com a própria classe e propõe ao público o que necessita comunicar com autenticidade e generosidade.

Quais os próximos planos para a carreira? O que ainda pretende realizar?
Meus planos são levar o cinema nordestino para todos os lugares do mundo. O Nordeste é um lugar cheio de encantos e mistérios, que carrega a história do país no trabalho e na educação, na força de cada indivíduo e na paixão ardente que levanta os nordestinos todos os dias. Temos orgulho da nossa cultura, da memória que o corpo sertanejo carrega. Dar vida às histórias do meu povo é a maior honra que eu possa ter. Sou muito grato ao cinema nordestino.

Fui revelado pelas mãos de artistas que são algumas das minhas maiores referências, influências e inspirações. Eles me fizeram acreditar que é possível, que a vida presta. Ainda não tiraram de nós a memória e os sonhos. No Nordeste, temos algo incomum, que não se encontra com tanta força em outros lugares: o afeto, a sabedoria, a generosidade de olhar para o próximo e, juntos, tornar o sonho vivo. Pulo desse precipício, me rasgo e me remendo com as agulhas do tempo. Carrego um pouco de cada um, e isso me faz seguir. Acreditar em um mundo possível, amado e verdadeiro é o maior presente que eu posso ter. Eu devo isso ao meu Nordeste.



A quinta e última temporada de Sintonia estreou em fevereiro, e Geyson Luiz, que interpreta Bagre, um detento veterano, reflete sobre o impacto da série no público. Em entrevista à coluna Fábia Oliveira, o ator destacou que a trama vai além do entretenimento, promovendo reflexões sobre a periferia e suas dinâmicas.

“Sintonia dialoga com todas as periferias do nosso país; sua linguagem é única e começa a partir da memória e dos sonhos de ser brasileiro”, afirmou o artista, que também ganhou notoriedade com Lama dos Dias e Cangaço Novo.

Com uma trajetória consolidada no cinema e nas séries nacionais, Geyson relembrou o convite para integrar o elenco da produção da Netflix e a construção de seu personagem. “Bagre é uma peça fundamental para o desenvolvimento da obra. Ele traz consigo a narrativa da necessidade de resolver problemas e a perversão do poder sobre Nando”, explicou.

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Sintonia – 5ª temporada

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Geyson Luiz

Reprodução/Instagram

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Geyson Luiz

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Geyson Luiz

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O ator também celebra sua experiência em Cangaço Novo, destacando a visibilidade que a produção trouxe para talentos do cinema nordestino. Nascido em Pernambuco e com uma carreira que começou no teatro de rua, Geyson nunca perdeu a conexão com suas raízes.

“Meus planos são levar o cinema nordestino para todos os lugares do mundo”, declarou.

Leia a entrevista completa com Geyson Luiz:

Uma nova temporada de Sintonia está prestes a estrear. Como está sendo a expectativa para o episódio final da série que ficou entre as mais assistidas da Netflix?
Estou feliz com o resultado do projeto que, há anos, vem encantando o público brasileiro ao contar histórias sobre a periferia, com a diversidade de um elenco primoroso. A quinta e última temporada da série Sintonia chegou a todos os cantos do país, do interior à capital. O público está descobrindo diversos talentos no streaming, e a nova temporada chega com intensidade.

A série convida à reflexão em comunidade e à ação por meio da linguagem audiovisual, em tempos de carência de leitura e interpretação textual, em tempos em que não se sabe ouvir antes de falar, em tempos em que não há esforço para compreender um pensamento contrário ao que se acredita. Sintonia traz diversidade e representatividade, contribuindo para a formação de um público mais consciente e crítico. A série dialoga com todas as periferias do nosso país; sua linguagem é única e começa a partir da memória e dos sonhos de ser brasileiro.

Como surgiu o convite para atuar em uma produção na plataforma?
O convite surgiu da produtora Gullane para dar vida a um personagem “chave” na trama. Havia uma referência à minha criação do “PINO”, da série Cangaço Novo, não pelo temperamento expansivo da personagem, que é destacado na série da Prime Video, mas pela consciência dialética de sua construção, de ampliar a narrativa a partir da perspectiva da personagem. É isso que faz do “BAGRE”, em Sintonia, uma peça fundamental para o desenvolvimento da obra.

Embora Bagre seja um personagem de passagem na história, ele traz consigo a narrativa da necessidade de resolver problemas e a perversão do poder sobre Nando, diante de uma decisão arriscada e difícil.

Você também está no elenco de Lama dos Dias, que está no catálogo da Globoplay. Pode nos dar detalhes deste trabalho?
Em 2017, iniciei minha carreira no cinema com o diretor e roteirista pernambucano Hilton Lacerda. Surgiu a oportunidade de compor o elenco da primeira temporada de “Lama dos Dias”, sendo indicado por Irandhir Santos, um artista que admiro desde a infância por sua trajetória no teatro, no cinema e na televisão. Após os testes feitos para a série, tive a oportunidade de ser convidado e, anos depois, tornar-me protagonista da segunda temporada, disponível no Globoplay.

O personagem Farmácia está mais certo de seus objetivos, porém enfrenta dificuldades para lidar com as consequências. No início da primeira temporada, encontramos Farmácia cheio de dúvidas; agora, mais preciso em suas decisões, ele se depara com a realidade diante de seus olhos e descobre, por meio da própria arte e da conexão com seus amigos, as razões que o fazem ser quem ele é. O Farmácia — ou Jorge Aleixo — é chato, sarcástico, insuportável e egocêntrico. No entanto, sua sensibilidade em relação a tudo ao seu redor é o que desperta a vontade de conhecê-lo melhor. Sua chatice funciona como um véu que esconde uma peculiaridade, fazendo com que todos se conectem e queiram estar perto do Farma.

A vida passou diante dos meus olhos. Eu tinha 19 anos quando gravamos a primeira temporada, e Lama dos Dias deu início a uma caminhada cinematográfica, abrindo portas e permitindo estar presente em diversas outras obras do audiovisual brasileiro.

Você também fez parte do Cangaço Novo. Como foi atuar ao lado de grandes nomes? Você esperava tanta visibilidade com esse projeto?
Todos os grandes nomes do cinema nacional tiveram o seu início, e Cangaço Novo é um projeto que escancarou para o público de todo o Brasil os grandes nomes do cinema independente. Foi o meu primeiro projeto de proporção internacional, e eu já imaginava que ele teria um alcance muito significativo, não só pela minha entrega, mas também pela dedicação de todos os meus companheiros de cena. Ser preparado por Fátima Toledo foi um divisor de águas, não apenas por eu ter me identificado com o seu método, mas também pela importância que ele teve na minha trajetória.

O Cangaço Novo foi fundamental para que o público, tanto dentro quanto fora do país, conhecesse um pouco mais da nossa arte. Assim como todos do elenco, venho de uma trajetória de filmes nordestinos que se destacaram em festivais no Brasil e no mundo. Cangaço Novo despertou um olhar mais atento para os grandes talentos que o cinema nordestino tem revelado. É importante para o público ter acesso à cultura, não apenas pela credibilidade de mostrar o meu trabalho, mas também para que o próprio público reconheça o valor do que é criado e contado sobre a nossa arte e a nossa cultura.

Você é formado em licenciatura em teatro, certo? Pretende seguir na profissão? Já existe algum plano?
Estou em processo de formação no curso de Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal da Paraíba. Atuo na profissão desde os meus 7 anos de idade, quando iniciei minha carreira no teatro em Pernambuco. Uma das grandes certezas da minha infância era buscar um caminho no qual eu pudesse me aprofundar no meu processo artístico, seja por meio da dança urbana, seja pelo meu encontro com a palhaçaria no circo. A universidade tem esse peso de me permitir aprofundar minhas pesquisas sobre o mundo mágico de ser ator.

É fundamental para todos os cidadãos que se interessam pelo estudo, além de se profissionalizar, buscar conhecimento. Vivemos a vida aprendendo, e a universidade é uma janela para novos horizontes. Além de artista, sou pesquisador da performance, do trabalho do ator e seu caráter social, político, artístico e cultural. Vivo seguindo com a necessidade de comunicar e de experienciar o intenso agora.

Em Boyzin, um curta, você foi reconhecido com o prêmio Aruanda. Como foi ganhar a disputa?
O curta Boyzin rodou vários festivais no exterior, apresentando uma performance energética de um dançarino de brega funk. O filme ganhou reconhecimento no estado de origem, na Paraíba. Boyzin nasce em um período efervescente do cinema paraibano, o que chamamos de Novíssimo Cinema Parahybano, no qual surge uma nova geração de diretores e roteiristas, como o próprio diretor do filme, R.B. Lima. Esses profissionais vêm ganhando destaque em festivais e no mercado audiovisual paraibano, que está em ascensão nos últimos anos. Um exemplo é o Fest Aruanda, que se tornou um dos festivais mais celebrados e importantes do audiovisual brasileiro. Em 2021, o filme foi premiado na 16ª edição do festival.

Você saiu de casa em busca de trabalhar com artes cênicas? Como foi esse caminho? Você morou, de fato, nas ruas?
Não havia uma perspectiva de vida futura para um pirralho como eu. O incentivo artístico surgiu de uma mistura de inspiração e realidade, que me afetava profundamente na minha infância. A visceralidade dos fatos de um ambiente caótico e efêmero tornava a arte uma tradução de inquietude e vulnerabilidade escancarada de um pirralho que adormecia com pesadelos sobre os homens e acordava cheio de sonhos vivos.

O teatro foi um divisor de águas. No pátio da minha cidade natal, onde aconteciam os eventos, apareceu uma trupe circense de palhaços. Aquilo me encantou de uma forma tão forte e profunda que comecei a crer num caminho que eu poderia traçar em diante. Então, comecei a fazer teatro na escola aos 7 anos de idade. Não há romantismo em uma vida dura, onde os sonhos são colocados à prova de fogo. A cada instante, é possível ser digno do que se ama, do que nos fortalece, e poder, arduamente, dar um passo de cada vez e celebrar a vida com poesia. As ruas foram um momento decisivo, onde eu fazia o que acreditava ser possível a cada instante. Um dia vivido nas ruas tinha a sensação de ser interminável, e a maneira de se sustentar era tensa, triste e solitária. No entanto, eu acreditava poder levar alegria às faixas de pedestres, juntando moeda por moeda, pintando o rosto e acreditando, todos os dias, que a vida presta. Meu palhaço, o Pupilo, nasce nas ruas de Belo Horizonte, mas carrega consigo a natureza brincante do terreiro de minha terra.

Há algum convite para atuar na TV aberta? Você sente vontade?
Existe um imenso interesse em atuar na TV aberta, mas há limitações que “não estão ao meu alcance”. Venho conquistando espaços de co-protagonismo em diversos projetos que exigiram versatilidade em meu trabalho. No entanto, como artista periférico, sei que quem vem da margem precisa fazer um esforço multiplicado diante das circunstâncias que sempre nos desafiam, como a necessidade de sobrevivência.

Já perdi projetos por ser questionado sobre o número de seguidores, mas ainda acredito que o público sempre terá certeza quando encontrar um ator que se entrega de corpo e alma, que se preocupa com a própria classe e propõe ao público o que necessita comunicar com autenticidade e generosidade.

Quais os próximos planos para a carreira? O que ainda pretende realizar?
Meus planos são levar o cinema nordestino para todos os lugares do mundo. O Nordeste é um lugar cheio de encantos e mistérios, que carrega a história do país no trabalho e na educação, na força de cada indivíduo e na paixão ardente que levanta os nordestinos todos os dias. Temos orgulho da nossa cultura, da memória que o corpo sertanejo carrega. Dar vida às histórias do meu povo é a maior honra que eu possa ter. Sou muito grato ao cinema nordestino.

Fui revelado pelas mãos de artistas que são algumas das minhas maiores referências, influências e inspirações. Eles me fizeram acreditar que é possível, que a vida presta. Ainda não tiraram de nós a memória e os sonhos. No Nordeste, temos algo incomum, que não se encontra com tanta força em outros lugares: o afeto, a sabedoria, a generosidade de olhar para o próximo e, juntos, tornar o sonho vivo. Pulo desse precipício, me rasgo e me remendo com as agulhas do tempo. Carrego um pouco de cada um, e isso me faz seguir. Acreditar em um mundo possível, amado e verdadeiro é o maior presente que eu posso ter. Eu devo isso ao meu Nordeste.



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